Resumo

A disciplina de Educação Física foi tradicionalmente concebida como espaço de formação moral, ainda que tal formação tenha assumido diversas conotações na história desta disciplina. Os valores por ela propagados mudaram de acordo com as transformações gerais da sociedade. Na atualidade, ao educar, desejamos favorecer a construção da moral autônoma. Sendo assim, diante do referencial teórico adotado, o da Epistemologia e Psicologia Genéticas, entendemos a necessidade de primeiramente compreender como se constroem os juízos morais. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo investigar e analisar as relações entre a prática e a consciência das regras no jogo infantil denominado de "bola queimada". Para tanto, realizamos uma pesquisa empírica, de caráter qualitativo. Como instrumento utilizamos entrevistas baseadas no Método Clínico, com dois tipos de roteiro. O primeiro abordou os relatos acerca da prática do jogo de "bola queimada", uma vez que o conjunto de indagações e respostas possibilitaram aferir como as crianças utilizavam as regras do jogo. O segundo roteiro investigou a consciência das regras, como elas interpretavam o caráter obrigatório das mesmas. A pesquisa empírica foi realizada com crianças pertencentes a quatro faixas etárias. Foram entrevistadas dez crianças por grupo, pertencentes a uma escola pública municipal do Ensino Fundamental I da cidade de Londrina-Pr. A hipótese de nosso trabalho indica que há vínculos ou relações entre a prática e a consciência das regras, que o juízo moral está enraizado na prática, mas se atrasa em relação à ela. Os resultados acerca dos relatos emitidos sobre a prática foram categorizados de acordo com a classificação proposta pela teoria piagetiana: (1) regra motora; (2) regra egocêntrica; (3) cooperação nascente; (4) codificação das regras, sendo que nosso estudo abarcou apenas os três últimos estágios. Para cada estágio construímos critérios indicadores relacionados ao jogo estudado. Os resultados acerca da prática indicaram mudanças significativas na forma como as crianças aplicam as regras do jogo conforme a faixa etária. Já em relação à consciência das regras os dados demonstraram esta mesma progressão sendo que a consciência autônoma foi apresentada somente pelas crianças mais velhas. Ao relacionar os dados encontramos que, tanto as crianças mais novas que se situavam no estágio da prática egocêntrica e grande parte daquelas que indicavam a prática de cooperação nascente revelaram uma consciência heterônoma das regras, indicando que a consciência mantém relações com a ação, progride dela, mas se atrasa em relação à ela. Já as crianças que situavam-se na codificação das regras apresentaram-se em construção de uma consciência autônoma. Assim, nosso estudo corrobora com a hipótese piagetiana de que há vínculos entre prática e juízo moral, de forma que o juízo moral está apoiada na prática, mas se encontra atrasado em relação à ela. 

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