Resumo

A Educação Física (EF) enquanto profissão constitui um evento recente, de pouco mais de 10 anos. Neste tempo, caracterizou-se a luta pela demarcação de um território de atuação, onde algumas atividades menos difundidas no âmbito da EF (lutas e artes marciais, yoga, método Pilates, etc.), apresentaram-se como dissidentes deste movimento convencionando-se chamá-las de práticas corporais alternativas (PCAs). Tais atividades e esportes constituem-se como atividades físicas que, deveriam ser orientadas por profissional competente. Além disto, as PCAs sempre interagiram nos espaços de atuação característicos dos profissionais de EF, como academias esportivas e de ginástica, clubes, associações, e até mesmo o meio escolar. Desta forma, destaca-se como objetivo deste estudo, investigar, na constituição do espaço social da EF no Brasil, a configuração de um campo de intervenção amplo, no qual práticas como yoga, método Pilates, tai-chi-chuan, entre outras, assumem um papel de alternativa ao conteúdo tradicional das atividades físicas da área de EF. Os objetivos específicos são: a) averiguar se as PCAs, na configuração de um campo de intervenção da Educação Física, se constituem como uma proposta alternativa ao que é tradicional na área ou; b) analisar se estas se apresentam como uma releitura das práticas correntes, ou seja, uma maneira diferente de trabalhar os conteúdos ditos como tradicionais; e c) identificar as PCAs como parte da Educação Física, aplicada por profissionais da área de intervenção nos diferentes campos de atuação. Esta pesquisa constituiu se como qualitativa, utilizando-se de elementos da análise de conteúdo para o tratamento e análise dos dados coletados. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário semi-estruturado, constando de 12 questões. Desta forma, investigou-se ao todo 47 participantes, instrutores/profissionais de PCAs, das regiões de Campinas, Bauru e Rio Claro, que foram divididos em 4 grupos, de acordo com as modalidades contempladas: Lutas e Artes Marciais (LAM), Método Pilates (Pi), Yoga (Y) e Terapêutico (T). Os resultados apontaram para uma valorização das experiências práticas em detrimento da necessidade de formação específica de nível superior para a atuação com as PCAs investigadas. Porém, também indicaram que a formação superior em profissões da área da saúde poderia auxiliar o trabalho com as PCAs, justificando-se pelos conhecimentos científicos do corpo humano. Isto demostra que o universo de atuação das PCAs possui características pré-modernas, que valoriza mais a experiência e metafísica do que uma formação pautada em moldes científicos. Corroborando com isto, aponta também que a formação dos instrutores das PCAs está mais próxima dos modelos de caráter artesanal, do que das profissões modernas, de caráter acadêmico. Podemos considerar que a formação em EF, e também as formações da área da saúde, possuem dificuldades de legitimação perante as PCAs, no que diz respeito à formação para a atuação. Isto nos remete a uma reflexão sobre a dimensão prática dos cursos de formação superior, no sentido de questionar sobre as motivações que levam estes cursos a não estabelecer as pontes entre a formação científica e a dimensão prática no que tange a sua atuação profissional.

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