Resumo

Esta tese tem como objeto de estudo as práticas pedagógicas da Educação Física (EF) com a Educação Infantil (EI) no interior do estado do Espírito Santo (ES). Essas práticas são focalizadas em duas dimensões: uma macro, relacionada às representações de professores(as) de Educação Física que atuam na Educação Infantil em nove microrregiões do estado, e uma micro, direcionada à análise de uma experiência pedagógica em um município que não possui essa área do conhecimento nos cotidianos das instituições infantis. A pesquisa tem como objetivo geral analisar as práticas pedagógicas de professores(as) de EF com a EI no interior do estado do Espírito Santo por meio dos discursos dos professores(as) e de uma experiência formativa desenvolvida no campo do estágio supervisionado. Desse objetivo geral, desdobram-se os seguintes objetivos específicos: 1) analisar o modo como as brincadeiras de faz de conta têm sido abordadas nas produções acadêmico-científicas da Educação Física brasileira; 2) analisar os discursos dos(as) professores(as) de Educação Física sobre as suas práticas pedagógicas na Educação Infantil em municípios localizados no interior do estado do Espírito Santo; 3) analisar uma experiência formativa desenvolvida no campo do estágio supervisionado em Educação Física no contexto da Educação Infantil, em um município do interior do estado do Espírito Santo que não possui essa área do conhecimento em seu cotidiano. A tese possui caráter plurimetodológico e articula três métodos de pesquisa: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa descritiva e a pesquisa-ação colaborativa. Cada método adotado está associado a um objetivo específico. A pesquisa bibliográfica foi utilizada para analisar o modo como as brincadeiras de faz de conta têm sido abordadas nas produções acadêmico-científicas da Educação Física brasileira. Para isso, produzimos um Estado do Conhecimento sobre essas brincadeiras por meio da análise de teses e de dissertações disponibilizadas no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e de artigos veiculados pelo Portal de Periódicos dessa agência de fomento. Evidencia-se a pluralidade de autores e de conceitos mobilizados pelas produções acadêmico-científicas da EF para abordar as brincadeiras de faz de conta na EI. Em meio a essa diversidade, encontramos um ponto em comum que consideramos salutar para a área: as produções analisadas compartilham a ideia da brincadeira de faz de conta como atividade lúdica sobre a qual as crianças exercem as suas práticas autorais, produzem cultura e têm as suas subjetividades reconhecidas e valorizadas. Os dados produzidos na pesquisa descritiva são utilizados para analisar as práticas pedagógicas dos(as) professores(as) de Educação Física que atuam em instituições de Educação Infantil no interior do estado do Espírito Santo. Produzimos um mapeamento no ES sobre a presença da EF no contexto da EI e analisamos a concepção de infância subjacente à prática pedagógica dos(as) professores(as) que atuam em instituições localizadas no interior do referido estado, com foco nas brincadeiras de faz de conta e no modo como lidam com a dinâmica curricular da EI. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 17 docentes das nove microrregiões que compõe o interior do estado do Espírito Santo, são elas: Central Serrana, Sudoeste Serrana, Litoral Sul, Central Sul, Caparaó, Rio Doce, Centro-Oeste, Nordeste e Noroeste. Constata-se que os contextos em que os(as) professores(as) estão inseridos impactam diretamente nos diferentes significados atribuídos às suas práticas pedagógicas, na concepção de infância que utilizam e no modo como lidam com a dinâmica curricular da EI. Por fim, a pesquisa-ação colaborativa foi utilizada para analisar uma experiência pedagógica desenvolvida na disciplina de estágio supervisionado da EF com a EI, centrada no protagonismo infantil, na articulação com as brincadeiras de faz de conta, em um município do interior do estado do Espírito Santo que não possui essa área do conhecimento em seu cotidiano. Essa experiência teve cinco meses de duração e foi realizada em uma instituição de EI do município de São Gabriel da Palha, localizado na região centro-oeste do estado do Espírito Santo. Destaca-se, nesse capítulo, a importância de promover a participação ativa das crianças nas práticas pedagógicas, de forma a reconhecer as suas agências e o seu protagonismo, dando visibilidade às suas produções culturais em todo o processo de ensino-aprendizagem empreendido. Além disso, apresenta os desafios encontrados para a materialização de um currículo colaborativo com as outras áreas e sujeitos pertencentes ao cotidiano da instituição pesquisada. Conclui-se que a presença da EF nas instituições infantis no interior do estado do ES vem se expandindo nas últimas décadas. No que tange às práticas pedagógicas, observa-se uma pluralidade de perspectivas teóricas e didático-metodológicas que orientam as ações dos(as) docentes. Essa pluralidade é decorrente das especificidades de cada contexto e também das trajetórias profissionais e de vida dos(as) professores(as) entrevistados(as). Percebe-se, por meio dos dados analisados, que não há uma linearidade no discurso dos participantes, pois ora as suas falas dão indícios de uma ação pedagógica que reconhece e valoriza as práticas autorais e as produções culturais das crianças, ora estão atreladas a uma perspectiva maturacional, que segue padrões universais de desenvolvimento. No primeiro caso, destacam-se as brincadeiras de faz de conta como recurso para as crianças exercerem as suas agências e o seu protagonismo. No segundo, os jogos e as brincadeiras são apropriados como meio (estratégia metodológica para desenvolver determinadas aprendizagens) ou como objeto, em que a aprendizagem dessa manifestação lúdica tem fim em si mesmo, visando ampliar o repertório de brincadeiras das crianças. No contexto da pesquisa-ação colaborativa, verifica-se a potência do estágio supervisionado para a formação inicial de professores(as) de Educação Física comprometidos com práticas pedagógicas na Educação Infantil que buscam retirar as crianças da condição de invisibilidade e de subalternidade social, reconhecendo-as como sujeitos capazes de pensar e agir sobre si em seus mundos de vida. Esse processo exigiu dos estagiários o deslocamento de um olhar adultocêntrico, historicamente constituído em nossa sociedade, para uma compreensão das lógicas infantis a partir das próprias crianças. Quanto às relações colaborativas, apesar dos indícios de aproximações entre sujeitos e áreas do conhecimento, o tempo de inserção no campo foi insuficiente para que ações que rompam com saberes disciplinares fossem instituídas.

Acessar