Resumo
Elevada prevalência de agravos mentais, tais como o estresse, burnout, depressão e os transtornos mentais comuns, tem sido descrita na literatura em função das exigências impostas pelo trabalho do professor de Educação Básica. Ainda, há acometimentos por dores musculoesqueléticas, comportamentos e fatores de risco à saúde, que também afetam a população em geral, assim como as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). Além de influenciar a saúde dos professores, essas condições resultam em maior utilização de serviços de saúde, consumo de medicamentos, absenteísmo e presenteísmo, aspectos que geram prejuízos ao docente e ao empregador. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi analisar os preditores da utilização de serviços de saúde, medicamentos, absenteísmo e presenteísmo em professores. Estudo epidemiológico de corte transversal realizado na rede municipal de ensino da cidade de Londrina-PR, no ano de 2014. Participaram voluntariamente do estudo 633 professores de 63 escolas, sendo que 50 realizaram apenas o estudo piloto. Os professores responderam a um questionário autorrelatado para estimar as seguintes variáveis independentes: estresse ocupacional, transtornos mentais comuns, burnout, atividade física na infância e atual, comportamento sedentário, estado nutricional, dores musculoesquléticas, consumo de álcool e tabaco. Da mesma forma, foram analisadas 10 DCNTs. As variáveis dependentes foram a quantidade consultas médicas, com psicólogo (a), realização de exames, uso de medicamentos, absenteísmo, presenteísmo e dificuldade em realizar os trabalhos que envolvam esforço físico. Com exceção do consumo de medicamentos (6 meses), todas as outras variáveis foram relatadas de acordo com os últimos 12 meses. Foi elaborado um modelo teórico inicial para predizer as variáveis dependentes. O modelo foi avaliado por meio da modelagem de equações estruturais, assim como foram estimados os efeitos diretos, indiretos e os respectivos intervalos de confiança de 95%. Devido ao ajustamento inaceitável do modelo inicial, as variáveis atividade física na idade jovem, comportamento sedentário no trabalho e no tempo livre foram eliminadas. Foram encontrados efeitos diretos significativos entre estado nutricional (β=0,081), transtornos mentais comuns (β=0,355), estresse no trabalho (β= 0,068), burnout (β=0,113) e dores musculoesqueléticas (β=0,152) sobre o somatório de DCNTs, sendo que a atividade física apresentou apenas efeito indireto (β=-0,009). As DCNTs apresentaram efeito direto sobre todos os desfechos analisados (β=0,081 a 0,627). As dores musculoesqueléticas apresentaram efeito direto sobre a quantidade de consultas médicas (β=0,136) e exames (β=0,098). Os transtornos mentais comuns apresentaram efeito direto sobre as consultas com psicólogo(a) (β=0,104). As variáveis que apresentaram efeito direto sobre o consumo de medicamentos, absenteísmo e presenteísmo foram os transtornos mentais comuns (β=0,072, 0,129, 0,209) e o burnout (β=0,069, 0,074, 0,140). Por fim, a atividade física (β=-0,102), transtornos mentais comuns (β=0,153), burnout (β=0,099) e dores musculoesqueléticas (β=0,095) apresentaram efeito direto sobre a dificuldade em realizar as tarefas do trabalho que envolvam esforço. Programas de intervenção com objetivo de reduzir a utilização de serviços de saúde, consumo de medicamentos, absenteísmo e presenteísmo em professores devem prevenir o sobrepeso, os transtornos mentais comuns, o estresse no trabalho, o burnout, a dor musculoesquelética e aumentar a atividade física.