Prefácio da 1ª Edição (1916)

Parte de Da Educação Física . páginas 23

Resumo

A missão educativa, se é admirável e nobre, é por igual complexa e se foi sempre difícil, hoje o é mais do que nunca. Acima da questão agitada entre os depositários de uma tradição secular e os que empu-nham a bandeira de inovações, entre os partidários da especialização e os que propugnam a universalidade dos conhecimentos, paira, aliás em caminho de solução, o problema capital pôsto pelos que julgam se deve imprimir um caráter mais vasto à escola e fazer dela uma casa não só de ensino, como também de educação, no mais largo sentido do têrmo.

Não se pode desconhecer quanto lucraria a mocidade moderna com esta compreensão mais ampla da escola. É incontestável que, em nossos tempos, o nível moral baixou, desfibrou-se a vontade, à medida que as idéias também desceram. E, a bem dizer, parece que nem idéias há numa grande parte dos espíritos; há sensações e um sentimentalismo doentio, quando não campeie a moral epicúria — a busca do prazer; e já os sentimentos e as emoções ameaçam o pôsto às idéias, esterili-zam o espírito, chegam a obscurecer o pensamento e quase exclusiva-mente dirigem o homem, reduzido pela escola positivo-criminalista "a um organismo galvânico, diversamente carregado pelo meio social ou pela fôrça do atavismo".

Anela-se hoje o prazer, buscam-se sensações e o que mais se alimen-ta, são ternos afetos e sentimentos agradáveis; as próprias ações que exigem trabalho e sacrifício, não se olham nem se aquilatam senão pelo prazer que em si têm ou que originam. Desta situação, entre outros ine-vitáveis corolários, era natural que resultassem o menoscabo pela edu-cação física e o terrível círculo vicioso, em que labora a vida nacional: desprezamos a cultura do corpo, porque somos fracos; somos fracos, porque desprezamos a cultura do corpo. De resto tôda educação, que estagnasse no sentimento ou gravitasse apenas em teimo do cérebro, fi-caria incompleta, precária, ineficaz. É cânone da pedagogia. Daí a ne-cessidade de se contemplar a ginástica cientifica num programa escolar, e de se quebrarem as cadeias do empirismo, alargando os âmbitos desta disciplina, remontando o seu professor a regiões mais altas, donde possa observar, numa vista panorâmica e esquecidas as teorias apriorísticas, as grandes experiências das civilizações antigas, nesses domínios, e as transformações que se operaram na educação física, sob o impulso das ciências.