Resumo

Introdução: O perfil de usuários de aplicativos de smartphone para atividade física n brasil é pouco conhecido. Entretanto, resultados de pesquisas em países desenvolvidos indicam que os aplicativos são desenvolvidos para pessoas mais escolarizadas, mais jovens e com maior renda em relação aos não usuários. Lamentavelmente, as funcionalidades de tais aplicativos são delineadas para pessoas com pouco risco cardiovascular (RCV). Portanto, essa ferramenta promissora comumente não atrai pessoas mais velhas e com maior RCV, as quais seriam as maiores beneficiadas em termos de saúde. Nesse sentido, identificar funcionalidades mais ou menos populares entre pessoas com maior RCV poderia potencializar o desenvolvimento de tecnologias móveis para proporcionar mudanças favoráveis de comportamento. Objetivos: Avaliar, entre as funcionalidades comumente utilizadas, aquelas que devem ser mais ou menos priorizadas para pessoas com RCV moderado a alto. Métodos: Entrevistamos 238 adultos assintomáticos (43 +- 12 anos; 27 +- 5 kg/m2), homens e mulheres em igual proporção. Inicialmente inquirimos sobre o uso atual de aplicativos de smartphone contendo funcionalidade de monitoramento de atividade física, como registros de sessões de exercícios e/ou contagem de passos. Os participantes foram inquiridos quanto à presença de fatores de risco clássicos para doenças cardiovasculares, i.e., idade, sexo, hipertensão arterial, diabetes melito, dislipidemia, obesidade, tabagismo e inatividade física. Os participantes com dois ou menos fatores de risco foram considerados com RCV baixo e aqueles com três ou mais fatores de risco foram agrupados como RCV moderado/alto. Investigamos também atributos demográficos e antropométricos. Em seguida, um questionário contendo 9 categorias de funcionalidades comumente utilizadas em aplicativos de smartphone para atividade física foi aplicado: 1) personalização/individualização (4 itens); 2) Treinamento (4 itens); 3) Desempenho (2 itens); 4) Aspecto social (4 itens); 5) Feedback (2 itens); 6) Motivação (6 itens); 7) Dicas (5 itens); 8) Outras gerais (4 itens); 9) Funcionalidades que mais utiliza/utilizaria (20 itens). Os dados foram analisados descritivamente. Para cada uma das funcionalidades preferidas, comparamos a proporção de participantes com RCV baixo com a proporção com RCV moderado/alto por meio do teste x2. Resultado: A proporção de entrevistados que relataram já utilizar um aplicativo para atividade física foi significativamente superior entre os participantes com RCV baixo (36,0% vs. 14,3%; p < 0,05). Entre todas as funcionalidades, as preferências foram significativamente diferentes entre os grupos em 12 delas (RCV leve vs. RCV moderado/alto): Indicar qual é meu estado físico (80,8 vs. 62,5%); Oferecer um programa de treinamento (79,8 vs. 59,4%); Salvar e revisar os dados do treino (88,5 vs. 71,9%); Receber feedback sobre meu desempenho (90,4 vs. 78,1%); Ter pequenos objetivos, tarefas ou desafios a cumprir (78,8 vs. 62,5%); Receber mensagens motivadoras ou notificações (79,8 vs. 59,4%); Receber sugestões para variações no treinamento (62,5 vs. 84,4%); Receber sugestões para variação no treinamento (80,8 vs. 89,4%); Receber sugestões para a técnica de corrida, caminhada e execução da atividade (88,5 vs. 82,4%); Ter opção de navegação por voz (57,5 vs. 75,0%); Monitorar o percurso percorrido (91,3 vs. 71,9%); Ter acesso à previsão do tempo (72,1 vs. 62,5%); Armazenar os resultados dos treinos em gráficos e estatísticas (23,1 vs. 9,4%). Conclusões: Podemos concluir que há diversas funcionalidades comumente incluídas em aplicativos para atividade física, significativamente menos populares entre adultos com maior RCV, com exceção da diversificação do treinamento. Nossos resultados reforçam a necessidade do desenvolvimento de aplicações para atividade física com mais base científica e sobretudo voltado para as pessoas que mais necessitam aumentar os níveis de atividade e aptidão física. 

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