Integra

Neste ano o cenário do Natal encontra-se alterado. Jesus não vai nascer na manjedoura de um curral. Desta vez, nasce no meio dos escombros de casas arrasadas; e não terá o bafo de animais domesticados para O aquecer. Também não contará com a visita dos pastores, dos reis-magos e das mulheres. Verá à Sua volta um ambiente sombrio de exaltação da morte e de desprezo da vida. Não ouvirá cantos de coros angelicais; a pauta é a da barbárie e crueldade, escrita com as notas das bombas lançadas por sofisticados aviões, dos tiros mortíferos dos canhões e carros de combate e das granadas atiradas pelos cavaleiros do apocalipse.

Jesus está obrigado a nascer e ficar nesse lugar selvático. Embora os Seus pais queiram, Ele não consegue escapar para o Egito: o caminho da fuga é assaz perigoso e a fronteira encontra-se encerrada. Não tem que temer o Herodes de outrora; a situação é agora pior. Um sucessor do rei fracassado, possuído pela ânsia de vingança, almeja exterminar os “animais humanos”, que são todos os contrários ao seu lado. Porém Jesus não está só. Talvez até nunca tenha estado tão acompanhado. São milhares e milhões as pessoas que enfrentam o mesmo fado de abandono, agressão e errância, na Palestina e pelo mundo afora. Afinal, Ele é um peregrino, sem direito a terra e a teto. Não precisa de receber ouro, incenso e mirra; dará por bem empregue a dura viagem, se no coração enraizarmos o credo humano, se não formos contra nada e ninguém, exceto aquilo que nos torna inumanos.

Olhemos, de modo compenetrado, o presépio desta era. Os perseguidores do Menino perdem tempo. Quanto mais tentarem matá-Lo, mais renascerá em cada criança; o alvor de uma nova Humanidade surgirá das cinzas enterradas debaixo das vinhas e oliveiras.