Resumo

Este estudo teve como objetivo analisar os fatores associados à pressão arterial e aos lípides séricos e verificar o poder de discriminação de indicadores antropométricos para a pressão arterial elevada e alterações lipídicas em adolescentes. As análises foram realizadas utilizando-se dados do levantamento epidemiológico transversal, de base escolar, realizado no ano de 2006, com adolescentes de Três de Maio, Rio Grande do Sul, Brasil, intitulado “Fatores de risco para aterosclerose em adolescentes”. A população alvo do estudo foi constituída de 1642 adolescentes (14 a 19 anos de idade) matriculados nas escolas públicas (5) e privadas (2). A amostra foi probabilística, estratificada, proporcional por nível econômico e sexo. Composta de 660 adolescentes (317 rapazes; 343 moças), a amostra permitiu calcular associações com um poder de 80% e um nível de significância de 95%. Foram mensuradas as variáveis: pressão arterial, colesterol total, glicose, peso ao nascer, sexo, idade, cor da pele, nível econômico, história familiar (fatores de risco e eventos cardiovasculares), atividade física, comportamentos sedentários, alimentação (lipídios, ácidos graxos saturados, colesterol, sódio, potássio, cálcio e fibras), tabagismo, consumo de álcool, estatura, índice de massa corporal, circunferência de cintura, razão cintura-estatura e índice de conicidade. A maioria dos fatores mostrou-se associada positivamente à pressão arterial dos adolescentes: índice de massa corporal (sistólica: β= 0,97; p<0,001; diastólica: β= 0,55; p<0,001), glicemia (sistólica: β= 0,16; p<0,001; diastólica: β= 0,13; p<0,001), o colesterol total (sistólica: β= 0,04; p=0,001), consumo de sódio (sistólica: β= 0,001; p=0,002), ácidos graxos saturados (diastólica: β= 0,06; p= 0,01), enquanto que a prática de atividade física moderada a vigorosa se associou de forma negativa (diastólica: β= -0,93; p= 0,05). Os lípides sé ricos se mostraram associados ao índice de massa corporal, a associação foi positiva com o colesterol total (β= 0,96; p= 0,001) e negativa à lipoproteína de alta densidade (β= -0,45; p<0,001). No que tange ao poder discriminatório dos indicadores antropométricos para a pressão arterial elevada, a circunferência de cintura, o índice de massa corporal e a razão cintura-estatura apresentaram áreas significativas sob a curva ROC, além de apresentar melhores percentuais de sensibilidade e de especificidade para discriminar a pressão arterial elevada em ambos os sexos. Os indicadores antropométricos também foram bons preditores de alterações lipídicas, dentre eles, a circunferência de cintura, o índice de massa corporal e a razão cintura-estatura apresentaram melhor capacidade de discriminar o colesterol total elevado, apenas nos rapazes. Quanto ao HDL-C baixo, as áreas sob a curva ROC dos indicadores antropométricos foram significativas para ambos os sexos. Com base nos resultados encontrados observou-se que o índice de massa corporal associou-se a condições desfavoráveis de pressão arterial e de lípides séricos. Por sua vez, os níveis de colesterol total e de glicemia, o consumo de sódio e de ácidos graxos saturados favoreceu o aumento da pressão arterial nos adolescentes, ao passo que a atividade física contribui para a diminuição da mesma. Além disso, o índice de massa corporal, a circunferência de cintura e a razão cintura-estatura apresentaram bom poder discriminatório tanto para pressão arterial elevada quanto para as alterações lipídicas. Estas evidências reforçam a necessidade de intervenções de caráter multidisciplinar que estimulem a adoção de um estilo de vida saudável entre os adolescentes, especialmente, no contexto escolar. Além disso, é importante ampliar a utilização da antropometria na escola, numa proposta com ênfase à promoção da saúde.

 

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