Resumo
A síndrome metabólica é resultado da associação entre comorbidades crônicas, resultantes de comportamentos sociais, alimentares e fisiológicos prejudiciais à manutenção da saúde das pessoas e agrupamentos comunitários. No entanto, informações sobre os indicadores e condições de saúde em populações negras ainda são bastante restritos. Neste sentido, o presente estudo objetiva analisar a prevalência de Síndrome Metabólica (SM), assim como sua associação com fatores sociodemográficos, de estilo de vida, de condições de saúde e indicadores antropométricos de obesidade (IO), considerando também suas diferentes simultaneidades, em adultos quilombolas. Esta análise utilizou dados do inquérito intitulado Perfil Epidemiológico dos Quilombolas baianos , uma pesquisa com coleta transversal, de base populacional, com amostra de 850 adultos (>18 anos), de ambos os sexos, residentes nas comunidades quilombolas da região de Guamambi, Bahia, Brasil. As coletas consistiram na aplicação de instrumento estruturado específico, contendo questões sociodemográficas, medidas antropométricas (cintura, quadril, massa e estatura) e da composição corporal por bioimpedância, verificação da pressão arterial e análises sanguíneas laboratoriais (glicemia, triglicerídeos e colesterol de alta densidade). As medidas antropométricas permitiram a determinação do Índice de Massa Corporal (IMC) e do Índice de Adiposidade Coporal (IAC). A SM, assim como seus elementos, foi determinada conforme o critério Joint Interim Statement. A regressão de Poisson testou as associações entre SM com diferentes fatores sociodemográficos, do estilo de vida e relativas às condições de saúde. Foram construídas curvas ReceiverOperatingCharacteristic (ROC) entre os IO e a SM. A razão entre a prevalência observada (PO) e a esperada (PE) determinaram as simultaneidades aumentadas. A SM esteve prevalente em 25,8% (Intervalo de Confiança de 95%: 22,8:28,7) dos adultos quilombolas, mais associada (p<0,05) ao sexo feminino, maior faixa etária, pior qualidade do sono, excesso de peso corporal e obesidade. Todos os IO apresentaram boa capacidade preditiva para SM (curva ROC significativamente >0,5), em ambos os sexos, conforme os seguintes pontos de corte para mulheres e homens, respectivamente: 24,97 e 25,36 kg/m² para IMC; 34,30 e 26,14% para IAC; e 37,7 e 23,8% para %G. Metade das possíveis combinações entre os componentes na presença da SM apresentaram PO maiores que as PE. A hipertrigliceridemia foi o componente mais recorrente nestas simultaneidades aumentadas. As maiores simultaneidade se associaram ao sexo feminino, maior faixa etária, trabalhar com remuneração e menor escolaridade. Então, a presença da SM, assim como suas maiores simultaneidades, se associou com fatores modificáveis. E, os IO apresentaram capacidade discriminatória da SM em adultos quilombolas.