Resumo

A educação em saúde tem se mostrado uma estratégia efetiva na promoção da atividade física e saúde. Dentre as estratégias de educação e promoção de modos de vida saudáveis, o aconselhamento para atividade física tem sido recomendado no contexto da atenção primária em saúde. O objetivo deste estudo foi analisar a prevalência e os fatores associados à prática do aconselhamento para a atividade física em profissionais da Atenção Primária à Saúde de João Pessoa (PB). Trata-se de um estudo epidemiológico transversal com 591 profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde) sendo a maioria do sexo feminino: 78,6% e com média de idade: 43,9 ± 13,9 anos, que atuam nas equipes de Saúde da Família (eSF). Foram selecionadas sistematicamente 43 USF, distribuídas proporcionalmente por tamanho da UBS (conforme quantidade de equipes), distritos sanitários (Distritos I, II, III, IV e V), sendo representativo por tipo de profissional. A coleta de dados foi realizada no período de maio a outubro de 2017. O aconselhamento para a atividade física foi mensurado por uma questão, classificando os profissionais de saúde que aconselham como aqueles que realizam tal prática há mais de seis meses através do estágio de mudança de comportamento. As variáveis independentes com as seguintes categorizações foram: tempo de trabalho na ESF (< 5 anos vs ? 5 anos), quantidade de atendimentos (com excesso de atendimento vs sem excesso de atendimento), participação de cursos, eventos e capacitações em atividade física nos últimos 12 meses (sim vs não), recebimento de apoio matricial em atividade física nos últimos 12 meses (sim vs não), percepção de saúde (percepção positiva vs negativa), nível de atividade física no lazer mensurado por questionário (<150min/sem vs ?150min/sem), estado nutricional (excesso de peso vs peso normal) percepção de barreiras para aconselhamento (sim vs não), os fatores psicossociais (atitude e autoeficácia) foram calculados através de um escore baseado no somatório dos itens de cada escala e para fins de análise foram calculados tercis dessas variáveis, categorizadas como: baixos (1º e 2º tercil) e elevados níveis (3º tercil). Foram considerados como potenciais fatores de confusão as variáveis sociodemográficas: idade, sexo, renda e escolaridade. Os dados foram tabulados em duplicata no programa EpiData 3.1. Foi utilizado um modelo hierárquico de regressão logística binária para avaliar as possíveis relações entre os fatores associados com o desfecho. O nível de significância adotado foi de p <0,05, e todas as análises foram realizadas no software Stata. A maioria dos profissionais de saúde eram casados (56,2%), cor da pele não branca (72,2%), trabalhavam na ESF a mais de cinco anos (85,1%), com carga horária menor que quarenta horas semanais (90,5%), e não tinham outro vínculo trabalhista além da ESF (87,0%). A prevalência do aconselhamento para atividade física foi de 46,2% (IC95%: 55,6 - 73,6), sendo maior entre profissionais de nível superior (66,1%; IC95%: 56,8 - 74,2) comparado aos de nível médio/técnico (41,6%; IC95%: 37,2 - 46,1). A análise multivariável demonstrou que profissionais de saúde sem excesso de atendimento diário (OR= 1,59; IC%95 1,04 - 2,42), com percepção de saúde positiva (OR= 1,96; IC%95 1,32 ? 2,90), que não relataram barreiras (OR= 3,16; IC%95 1,99 ? 5,03), com atitude positiva (OR= 1,67; IC%95 1,13 ? 2,47) e alta autoeficácia (OR= 1,10; IC%95 1,01 ? 1,20) tiveram mais chances de realizar o aconselhamento para atividade física. Diante do exposto, pode-se concluir que o aconselhamento para atividade física, embora já venha ocorrendo, ainda é pouco realizado, particularmente entre os agentes comunitários e técnicos de enfermagem, caracterizando-se uma oportunidade desperdiçada de promoção de atividade física para a população. Os fatores associados à realização do aconselhamento pelos profissionais de saúde revelaram que desenvolver ações referentes à organização do trabalho, atuar sobre condições de saúde dos profissionais, bem como reforçar fatores psicossociais e atenuar as barreiras em relação ao aconselhamento para atividade física poderá contribuir para a participação dos profissionais na realização de ações de promoção de saúde, de forma a promover a melhoria da qualidade de vida dos usuários. 

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