Integra

INTRODUÇÃO:

A Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, criada em 1940, foi a instituição pioneira na formação de professores e técnicos de Educação Física no Estado do Rio Grande do Sul. Até 1969 esteve sob a tutela do Estado cujas condições de funcionamento eram bastante restritas, especialmente no que estava relacionado à infra-estrutura para a realização das suas atividades. Em 1969 foi concluído o processo de federalização da ESEF que, a partir desse momento, começa a ampliar suas dependências físicas bem como as vagas oferecidas nos diferentes cursos desenvolvidos pela instituição. Entendendo a história não como a realidade sobre algo transcorrido no passado, mas como um discurso sobre o real, essa pesquisa narra fragmentos da história da ESEF a partir da memória de diferentes homens e mulheres que, em diferentes tempos, vivenciaram essa instituição. Não se trata, portanto, de uma narrativa oficial sobre a sua história; o que está reunido nessa pesquisa são pequenos vestígios da memória de alguns de seus sujeitos cujas informações permitiram esboçar as reflexões aqui apresentadas.


METODOLOGIA:

Sustentada pelo eixo teórico-metodológico da História Oral, a pesquisa apresenta como fontes primárias depoimentos de pessoas que tiveram significativa contribuição e conhecimento sobre a estruturação da ESEF. Foram entrevistados 50 sujeitos entre professores, servidores técnicos-admininstrativos e alunos que estão atuando ou que já fizeram parte dos quadros da Escola. Estas entrevistas reuniram um conjunto de informações que possibilitaram analisar a trajetória da ESEF desde seus primórdios. A pesquisa desenvolveu-se a partir dos seguintes procedimentos metodológicos: identificação das pessoas a serem entrevistadas; elaboração de roteiros para cada entrevista; realização da entrevista; processamento da entrevista, incluindo as etapas de transcrição, conferência de fidelidade, copidesque e leitura final; assinatura, por parte do entrevistado, de um documento concedendo ao Centro de Memória do Esporte da ESEF/UFRGS a propriedade e os direitos autorais do depoimento de caráter histórico e documental; catalogação da entrevista conforme orientações específicas, visando a organização do acervo de memórias; disponibilização para consulta via meios computacionais e in loco.


RESULTADOS:

Desde a criação da Escola, diferentes pessoas com suas diferentes personalidades compartilharam não apenas o mesmo espaço físico, mas também as mesmas rotinas, tarefas e vários sentimentos em comum. Em muitas entrevistas foi mencionado ter sido a ESEF o espaço que permitiu a emergência de grandes amizades, amores, casamentos, desavenças, tensões e rompimentos, despertando nos sujeitos envolvidos a representação da existência do que denominam de "comunidade esefiana" expresso por promover um certo pertencimento familiar. Além dessa representação foi notório, nos depoimentos, a importância da ESEF no incentivo à prática esportiva feminina pois, desde a sua fundação, houve o incentivo à muitas mulheres para a adesão e permanência no campo das práticas corporais esportivas, consideradas, então, como um espaço de domínio masculino. Nos anos 40, 50 e 60, muitas das atletas que participavam dos clubes da cidade, em diferentes modalidades da eram alunas da ESEF. Uma instituição é feita de memórias. Para além dos registros, dos eventos, das instalações, da concretização operacional e acadêmica de sua existência há, ainda, aquelas pequenas histórias que conferem vida e registram detalhes do cotidiano que, na grande maioria das vezes, não figura na oficialidade com a qual se narra a história. Dentre os vários depoimentos coletados muitos fizeram referência a pequenas histórias, sua maioria, narradas com entusiasmo, orgulho, traquinagem e emoção pois os narradores sentiam-se sujeitos de uma construção coletiva.


CONCLUSÕES:

Vale lembrar que assim como a entrevista está intimamente relacionada à memória, seu processamento articula, simultaneamente, pesquisa e documentação na medida em que permite, também, a produção de um documento histórico. Daí sua riqueza pois "a evidência oral, transformando os "objetos" de estudo em "sujeitos", contribui para uma história que não só é mais rica, mais viva e mais comovente, mas também mais verdadeira". Verdadeiro, entendido nesse contexto, não no sentido de que o que está sendo relatado efetivamente aconteceu assim, mas de que há ali uma vida a ser exposta a partir de quem a viveu. Essa e tantas outras situações evidenciam a sutileza através da qual a história de uma instituição se faz. Revelam particularidades, encantamentos, surpresas, desatenções, enfim, um universo de possibilidades que texto algum pode apreender. Pode sim rememorar para que a partir dele outras memórias aflorem, desdobrem-se e transformem-se, por fim, em narrativas históricas.