Resumo

A formação de atletas é um fenômeno multidimensional e dinâmico. O objetivo do trabalho foi identificar, em atletas de voleibol feminino, fatores relevantes nesse processo. Para tal foi realizado um estudo retrospectivo, com a combinação de métodos quantitativos (análises descritivas, de variância e discriminantes) e qualitativos (entrevistas). Foram utilizados dados de 187 jovens atletas, coletados em 2003. 21 dessas atletas foram entrevistadas em 2012. Desse grupo 10 atletas (grupo SL) permaneciam atuando no alto nível (Superliga Nacional 2011/2012) e 11 atletas não estavam mais atuando na Superliga ou haviam abandonado o esporte (grupo nSL). Comparando as atletas SL com as nSL (em 2003), houve diferença significativa (respectivamente) na estatura (180,2 ± 6,9 e 172,1± 5,6 cm), no alcance de bloqueio (270 e 252 cm), alcance de ataque (277,7 e 261,9 cm) e idade de início no voleibol (11,6 e 10,8 anos). Em 2012 a estatura também foi significativamente maior no grupo SL (184,5 ± 6,9 cm) do que no grupo nSL (175,9 ± 4,6 cm). Na análise de função discriminante stepwise realizada, as variáveis alcance de bloqueio e dobra cutânea abdominal, foram capazes de discriminar as atletas do grupo SL das demais, classificando corretamente 84,7% dos casos do grupo nSL e 90% do grupo SL. Na análise das entrevistas observou-se que há muitas semelhanças entre os grupos, como: praticaram outras modalidades; a maioria das "peneiras" de que participaram foi realizada com bate-bola e jogo; jogaram na categoria acima e se sentiam valorizadas por isso, apesar de cansadas; apontaram a família como principal fonte de apoio; sentiram dificuldades em conciliar o estudo com as obrigações da vida de atleta. As atletas do grupo SL foram mais influenciadas pela família na escolha da modalidade; participaram de vários Campeonatos Brasileiros e algumas seleções brasileiras de base; estão defasadas quanto à escolaridade. Os fatores mais apontados para a permanência das atletas SL no processo foram o retorno financeiro (100%) e o prazer pela prática esportiva (60%). Elas desistiriam da prática caso houvesse problemas com a família (30%), se não tivessem uma boa proposta (20%), e outras, não desistiriam por nada (20%). Os motivos de desistência mais apontados pelas atletas nSL foram os estudos (36,7%) e dificuldades financeiras (27,3%). As atletas valorizam mais os técnicos pelo ensino do voleibol e pelo apoio, no entanto, 30% das atletas SL e 36,4% das nSL, relataram sérios conflitos com estes, a ponto de desistirem. É esperado que a estatura, e variáveis altamente relacionadas a esta, discriminem atletas de níveis diferentes no voleibol, assim como variáveis relacionadas à gordura corporal. No entanto, outros aspectos podem contribuir para o desenvolvimento de atletas de talento, como a formação adequada dos técnicos para lidarem com os diferentes aspectos do desenvolvimento das atletas. Manter o prazer pela prática é muito importante e essa condição pode ser favorecida com uma carga de treino e competição adequada. Além disso, a atleta deve ter a oportunidade de estudar e de manter contato com a família, pois é aquela que proporciona o suporte principal
 

Acessar Arquivo