Resumo
Essa pesquisa propõe analisar as concepções a respeito da formação feminina presente nos discursos e nas práticas curriculares que atuaram na formação das professoras da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (ESEF/UFPEL), nos anos 70 e início dos anos 80. A opção por tal momento histórico amparou-se na importância desse período na configuração da Educação Física brasileira, pois é nele que o paradigma esportivo ganha força na área, e também, por a Educação Física estar entre as formações universitárias em que houve uma presença significativa de mulheres. Para tanto, mapeei registros escritos no acervo da ESEF que demonstrassem as questões de gênero, compreendidas aqui especialmente na divisão sexual das turmas, nas especificidades das ementas das disciplinas, nos cadernos de informações aos calouros, nas atas de reuniões de departamento, nos jornais da época da implantação da ESEF. Em seguida coletei depoimentos orais com ex-alunas e ex-professoras da ESEF utilizando os pressupostos metodológicos da História Oral. É cabível dizer que foi a rede de depoentes e as fontes escritas que propiciaram um solo provisório suficiente para construir um corpo de conhecimento da memória feminina da formação docente em Educação Física nos anos 70 e 80. Judith Butler, contribui com seus estudos sobre a materialidade dos corpos e os corpos abjetos. Guacira Lopes Louro é utilizada com grande ênfase por suas análises atuais de diferentes questões relacionadas aos Estudos de Gênero e ao movimento feminista na Educação. Autoras da área da História também ganham espaço nesse trabalho por suas ressonâncias no campo da Educação, entre elas, Margareth Rago e Denise Sant’Anna. Michel Foucault recebe especial atenção na pesquisa, pelas suas reflexões sobre sexualidade, ética e estética da existência compondo o referencial teórico que serve como caixa de ferramentas para a pesquisa. Partindo das contribuições advindas das teorias curriculares que são pautadas pela perspectiva dos estudos genealógicos foucaultianos coloca-se a importância de examinar até que ponto, dentro das suas condições de possibilidades históricas, as práticas curriculares que atuaram na formação das professoras de Educação Física, principalmente a partir dos anos 70, possuem ou não elementos instituidores de novas posturas de corpo, da sexualidade feminina e das relações de gênero. A pesquisa que ora apresento, portanto, propõe refletir sobre as condições de possibilidade de formação universitária de mulheres numa determinada época, tomando os corpos e as sexualidades a partir de um viés pós-estruturalista, que entende o sujeito em termos de uma construção discursivo-institucional, em que pese as relações de poder, e considerando a historicidade que permeia os processos múltiplos de produção de subjetividades.