Professor: a Consciência das Contradições na Educação Física Escolar
Por Joanna de ângelis Lima Roberto (Autor).
Em IX EnFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar
Integra
Introdução
Analisando o surgimento da escola, vê-se que ela não pode ser caracterizada como uma instituição alheia aos acontecimentos sociais.
Pois quando ela surge, surge também um profissional que a faz acontecer, o professor, uma vez que é através dele que a escola cumpre o seu papeis e afirma seus valores.
Com base nesse fato observa-se que a escola pode ser encarada de várias formas, como espaço de luta e ao mesmo tempo como aplicadora arbitrária da cultura burguesa, pois é manipulada pelo Estado, pelo dominante.
E é neste ponto que entra o professor com os seus papeis, definindo o que vê e o que defende, legitimando, desvelando conforme seus interesses e o da classe que defende.
Porém muitos professores nem ao menos se vê dessa forma e nem com tal importância, age como se aquilo que prática fosse algo normal, olvidando que enquanto ensina, formando conceitos e através desses pode construir seres transformadores ou destruidores, com sua aula pode moldar o aluno segundo suas próprias definições e transpassando seus conhecimentos contribuindo na formação dele, e que também para se construir corretamente tem que se ter um planejamento. Com esse planejamento terá um intento, chegando ao seu "Verdadeiro objetivo".
Falar do professor é algo muito difícil, pois ele tem muitos papeis que às vezes são postos em prático o que pode ser bom ou ruim. Bom porque pode ser um revolucionário, um problematizador face às realidades sociais suas e de seus alunos, transformando-os em agentes sociais, se engendrando e engendrando-os na luta pela transformação estrutural da sociedade.Ruim porque pode ser solidário aos interesses da burguesia, acomodando-se, deixando-se levar pela situação, pois é mais fácil fazer o que mandam, do que ir contra, por que indispor com os dominantes se torna perigoso para sua existência como profissional no mundo capitalista, onde a luta pelo seu emprego se torna a maior de todas a LUTAS.
Justificativa
Muitos se dizem sobre essa profissão, de professor propriamente dita, desde muito tempo, mas poucos sabem e/ou compreende-se do real valor que se deve dar a ela. Devido esta falta de compreensão surge essa pesquisa com o intento de desvelar os verdadeiros valores e interesses destes que educam, principalmente quando se fala de Educação Física.
Professor é professor em qualquer lugar, porém o professor de Educação Física por estar constantemente tendo que legitimar sua matéria desde muito tempo.
Tendo em vista que a disciplina de Educação Física já teve constantes entra e sai do currículo escolar, vê-se a importância de enfatizar sua necessidade, principalmente no inicio da vida escolar da criança, e a característica de seu trabalho, sofre muita das vezes interferência do estabelecimento de ensino, pois este tenta cada vez mais aumentar o controle ao trabalho do docente, o que significa uma perda de autonomia.
Objetivo
Verificar o papel do professor de Educação Física, e como este é cumprido.
Analisar como o professor de Educação Física pode contribuir com a transformação social de seus alunos.
Metodologia
O presente trabalho foi desenvolvido através de busca em literatura sobre o assunto e visitas aleatórias em escolas públicas do Rio de Janeiro, durante aproximadamente 2 meses, não levando em consideração a área a ser pesquisada , pois o que importava não era a escola,ou o local onde está situada e sim o professor de Educação Física o que ele pensa sobre seu papel e sua representação.Realizando esse trabalho com entrevistas com 20 professores, sendo importante mencionar o pedido do não comprometimento da escola e o corpo docente.
Fundamentação teórica
Procurando entender melhor a profissão do professor, surge a questão, qual seu papel, qual seu trabalho?
Segundo Corrêa (2004) "è uma atividade profissional que se caracteriza por um trabalho intelectual, semi-autonomo em processo de desqualificação / requalificação. Seria um trabalho profissional, pois possui conhecimentos e habilidades próprias para exercê-lo" além de "conhecimento técnico e pedagógico relacionado a sua área. Para Saviani (1991), o saber pedagógico é o quer realmente define o trabalho do professor" (Corrêa, 2004).
A escola desenvolve a reflexão do aluno, sua capacidade intelectual, mas que m está na escola para fazer com que isso aconteça é o professor. Este tem que ter definido o seu projeto político-pedagógico, o que vai orientar sua prática em sala de aula, seu projeto de sociedade, e de homem que persegue, a que interesses defende, para que classe trabalha, que valores prioriza com sua prática ( coletivo de autores, 1992). Com estas definições poderemos chegar aos vários papeis que o professor de Educação Física pode vir a ter.
Conforme Saviani (1988), "para a ‘pedagogia tradicional’, o ensino escolar é centrado no professor que transmite o ‘acervo cultural aos alunos’. Na ‘pedagogia nova’ inverte-se o papel do professor, que agirá como um estimulador e orientador da aprendizagem", onde a iniciativa "cabe ao aluno" (Saviani apud Corrêa, 2004).Então se fala de diversas definições de professor. Que pode-se acrescentar com Giroux (1997) que diz que professor "é mais do que uma pessoa das letras, ou um produtor e transmissor de idéias",são intelectuais. E "os intelectuais são também mediadores, legitimadores e produtores de idéias e praticas sociais, eles cumprem uma função de natureza eminentemente política (Giroux apud Corrêa,2004).
E de acordo com Gramsci, cada grupo social dominante cria para si uma ou mais camadas de intelectuais que "lhes dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também social e político (Staccone apud Barbosa, 2001), o professor de Educação Física como outros profissionais (intelectuais), que se formam numa instituição escolar, tem um papel essencial na conservação do bloco histórico burguês, como esse elemento mediador do grupo dominante para exercício das funções de hegemonia e comando" (Barbosa, 2001).
O professor de Educação Física não deve ser visto de forma diferente dos outros professores, pois eles têm os mesmos papeis. A diferença é que o de Educação Física é estereotipado e sofre preconceitos. E é através de sua prática que pode acabar com esses preconceitos, lutando através de sua formação, contra a tendência de "formar juízos de valores que interessam à burguesia" se firmando verdadeiramente como profissional de valor, lutando contra a colaboração e a manutenção do ‘status quo’, situação vigente -favorável à burguesia -de forma inalterada"(Barbosa, 1997).
Ele é utilizado pelos ideais da burguesia muitas vezes, sem ao menos perceber, exaltando seus valores de classe dominante em conteúdos como, por exemplo, o esporte, que pode ou não fixar os valores na sua prática por meio de regras, competição (só vence o melhor), relaxar o aluno, através do lazer.Porém o ‘ Verdadeiro Educador’ não deve esquecer-se da prática de uma Educação Emancipadora, para alcançar um ‘Verdadeiro Objetivo’, cabal e comprometido com os interesses das classes oprimidas (Barbosa, 2001).
O professor deve representar o seu principal papel o de "levar o aluno a acreditar nas suas possibilidades..., a prolongar a experiência vivida" (Libanêo apud Barbosa, 2001). Ele deve estar na classificação de "de intelectuais radicais" que são aqueles que "devem oferecer liderança intelectual e moral à classe trabalhadora", tendo como ação "tornar o político mais pedagógico e o pedagógico mais político" (Corrêa, 2004).
Pois através dele será possível criar "no aluno condições de desequilíbrio, apresentando, para ele, o novo, o inusitado, o desconhecido".
Tendo o papel de "saber lidar com esse conflito. Provocar o desequilíbrio não é deixar a criança perdida num oceano de mistérios, mas apresentar o problema de tal forma que possa ser solucionado com o instrumental existente, ou seja, o conhecimento atual (menta ou motor)". Superando esse desequilíbrio poderá "estabelecer uma ligação entre o conhecido e o desconhecido". O problema será assimilado, sabendo assim em outra situação como lhe dar com isso.(Freire, 1997).
Como diria Paulo Freire, "não há docência sem discência, ou seja, o professor existe para o aluno, sendo que ele tem que agir como Educador, não só ensinando, mas ensinando a aprender, o que é o principal.
Conclusão
Pode-se perceber com esse trabalho, uma certa dificuldade por parte dos professores de Educação Física em falar sobre seu papel, como se vê e uma certa descrença.
E pode-se também ter um maior entendimento sobre as representações do professor de Educação Física no passado, no presente e como será no futuro.
Com base nas entrevistas pôde-se compreender os anseios desse profissional que é o maior responsável no desenvolvimento da criticidade, na capacidade intelectual do aluno. Tornando-se interessante um maior aprofundamento sobre o assunto, surgindo necessidade de sua apresentação em forma de trabalho aos docentes, iniciantes e aos mais experientes, para que possa haver um maior discussão, havendo um esclarecimento sobre o seu papel na formação do aluno.
Obs. As autoras, Joanna de Ângelis Lima Roberto (nanaufrrj5@hotmail.com) e Aline de Carvalho Moura (licacmoura@hotmail.com) são alunas da UFRRJ
Referência bibliografia
- Barbosa, Cláudio L Alvarenga.Educação Física Escolar: da alienação à libertação - Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
- Barbosa, Cláudio L. Alvarenga. Educação Física Escolar: as representações sociais - Rio de Janeiro: Shape, 2001.
- Ceccon, Claudius.et al. Ávida na escola e a escola da vida - Petrópolis, RJ:Vozes.1997.
- Corrêa, Ivan Livindo de Senna. MORO, Roque Luiz. Educação Física Escolar: reflexão e ação curricular - Ijuí: Ed. Unijuí, 2004.
- Freire, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física - São Paulo; Scipione, 1997.
- Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa - São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção leitura).