Resumo

Este trabalho parte da noção de corpo em Michel Foucault para pensar a educação física escolar. Para esse filósofo, o corpo é uma superfície modelável, produzido a partir de tecnologias políticas historicamente localizadas, que sofre influência das relações de poder e saber. Assim, a própria produção de conhecimento sobre o corpo é um exercício de poder sobre ele, estando poder e saber relacionados. Ao longo da história da educação física, no Brasil, o poder-saber sobre o corpo priorizou uma tradução simplificada do mesmo, reduzindo-o por meio da anatomia e da fisiologia humana. No entanto, intensificando-se nos anos 1980, novas maneiras de compreender o corpo, que levavam em consideração aspectos históricos, políticos e sociais, apareceram no campo da educação física. Neste trabalho, analisamos as obras de João Paulo Medina, Jocimar Daolio e Carmen Lúcia Soares, considerando-as representativas dessa ampliação do debate sobre o corpo no referido campo. Percebemos que esses autores, a partir de diferentes interpretações, contribuíram para o surgimento de novas experiências no campo da educação física. No entanto, pesquisas recentes sugerem uma pouca circulação, nos cursos de formação de professores de educação física, de conteúdos e disciplinas relacionados a essas novas maneiras de compreender o corpo. Isso acontece, sobretudo, em instituições privadas de educação física, mesmo após a reformulação das Diretrizes Curriculares Nacionais, em 2002, que insiste na presença de perspectivas de cunho social no currículo. A partir desse contexto e embasados nos princípios metodológicos foucaultianos da análise do discurso, realizamos nove entrevistas com professores de educação física formados em instituições privadas de ensino, que atuam em escolas públicas e privadas, visando a compreender como eles problematizam o corpo em suas aulas de educação física. Os resultados nos mostraram duas formas bem diferentes de problematizar o corpo e fazer educação física na escola. A primeira, realizada pela grande maioria dos entrevistados, é uma problematização característica da biopolítica, visando, por meio do estilo de vida ativo, controlar o que os alunos fazem com seus corpos, negociando no espaço escolar com a noção de cidadania, compreendida pelos professores como um meio de formar indivíduos para o bom convívio na sociedade. A segunda, representada por apenas 1 (um) dos entrevistados, embasa-se em enunciados de cunho humanista e também no discurso da diversidade, problematizando o corpo como inserido na cultura, enfatizando questões de gênero, sexualidade, entre outras. Contudo, se pensarmos em uma perspectiva foucaultiana, nenhuma dessas formas de problematizar o corpo satisfazem a questão do sujeito na contemporaneidade. Ao invés de embasar-se em certos regimes de verdade, em uma perspectiva foucaultiana, pode-se dizer que a questão não é de ofertar uma saída para os sujeitos, mas de ofertar problematizações éticas

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