Resumo

O propósito desta tese foi discutir a existência do Esporte para Todos (EPT) no Brasil, no período compreendido entre de 1973 e 1990. A escolha da temática deveu-se à presença de propostas que exaltavam o EPT como um movimento democrático, organizado a partir da população, com espontaneidade e espírito de improvisação, mesmo tendo o seu apogeu durante o governo militar implantado no país. Por outro lado, nossa hipótese é que o EPT foi um movimento idealizado tendo em vista promover o controle social, sobretudo, num momento em que o regime militar via-se em fase de enfraquecimento, passando a adotar discursos voltados à participação da população em diferentes instâncias. O objetivo foi apresentar as configurações do contexto no qual o movimento EPT foi desenvolvido, ou seja, traçar as articulações relativas às dimensões políticas, econômicas, sociais e educacionais estabelecidas no país durante o regime militar, mais precisamente, do início ao término do EPT, o que implicou também em percorrer pelas nuances atravessadas em âmbito internacional e nacional, após a segunda metade do século XX, as quais influenciaram na deflagração do golpe militar no Brasil, em 1964. O escopo documental é composto pelos documentos do EPT, bem com a legislação referente ao período abordado, além de entrevistas com atores que tiveram destaque na condução do EPT. Ancorado nesta documentação foi possível identificar que o EPT compôs discussões demarcadas no cenário internacional registradas nos embates entre o desporto de massa e o desporto do alto rendimento, sendo que no Brasil ele foi implantado como campanha em 1977, por meio de propostas que já vinham sendo discutidas a respeito da difusão do esporte de massa, desde 1973. Porém, no final de 1978, a campanha EPT foi desativada oficialmente, o que pode ser creditado aos incômodos gerados pela aglomeração de multidões nos eventos de impacto, mas não deve ser menosprezado o fato de que os eventos de permanência suscitaram disputas de poder entre personagens de escalões governamentais e entre os próprios segmentos situados na Educação Física. Desse ponto em diante, segundo autores que fizeram parte do EPT, ele tornou-se um movimento autônomo, livre das ingerências estatais e crivado por aportes de pluralismo e de descentralização. Este estudo investiga o grau de hegemonia conferido pelo EPT à população na fruição de atividades físicas informais. Conclui-se que o EPT se ancorou no aval institucional do Estado, recorrendo ao repertório popular das atividades físicas informais, a fim de se autodenominar como um movimento eivado pelos interesses comunitários. No entanto, a constatação desta tese é que o EPT não logrou o enraizamento cultural suficiente para que fosse considerado um movimento de matriz popular, ao contrário das atividades esportivas informais historicamente presentes no seio das comunidades. A institucionalização do EPT apresentou sinais de debilidade nos estertores do regime militar, onde o movimento tutelado pelo Estado começou a ceder espaços para os anseios corporativos do mercado da Educação Física, o que pode ser comprovado pelo precário legado deixado pelo EPT.

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