Integra

INTRODUÇÃO:

O Projeto Jogar Juntos teve início em 2000, foi subsidiado pelo Ministério do Esporte até julho de 2003, sendo dividido em duas fases.

A primeira fase ocorreu entre os anos 2000 e 2001, e, a segunda durante o ano de 2003. Durante o ano de 2002 o projeto permaneceu desativado, por falta de financiamento. Neste trabalho estamos apresentando os dados relativos a segunda parte do projeto, o ano letivo de 2003. Este trabalho tem por objetivo propiciar a reflexão e a discussão acerca de conhecimentos e mecanismos de intervenção pedagógica, por meio da implementação de uma proposta de Educação Física numa perspectiva superadora. O foco da intervenção foi a comunidade do Varjão DF. A escolha deveu-se pelo fato de o Varjão apresentar infra-estrutura precária e características sócio-econômicas preocupantes: violência, discriminação de gênero, etnia, de classe (alto índice de excluídos), em que as contradições sociais, estão explicitamente manifestas nas relações interpessoais aluno-aluno, professor-aluno. O Varjão é uma região administrativa de Brasília e uma comunidade de baixa renda, constituída por cerca de 10 mil pessoas. No local há apenas uma escola de ensino fundamental, com um total de 1.100 alunos.

Objetivos do Projeto:

Geral:

Compreender o contexto sócio-histórico em que a escola está inserida e procurar mecanismos para a superação dessa realidade.
Específicos:

Oportunizar a vivência de elementos da cultura corporal por meio das aulas;
Estimular a produção de conhecimento.

METODOLOGIA:

O projeto aconteceu nesta escola de ensino fundamental. Atendeu cerca de cento e vinte crianças com idade entre sete a dez anos, alunos da primeira e da segunda séries. As aulas aconteceram todas as segundas-feiras. Os alunos foram divididos em quatro turmas mistas, sendo que duas no período da manhã e duas no período da tarde. No segundo semestre de 2003 o Projeto perdeu algumas de suas características, como participação só da metade dos alunos, mas foi aperfeiçoado em outros itens, como as aulas 2 vezes por semana, no mesmo turno da escolarização. Os dados das aulas ministradas foram registrados em diário de campo, utilizando-se como técnica a observação participante e, posteriormente, os dados foram transcritos para os relatos de aula. Foram ainda utilizados como forma de documentação: fotografias e filmagens. Todo o processo foi discutido e analisado nas reuniões semanais de estágio, com o professor-orientador e com os demais estudantes da disciplina. A abordagem metodológica em Educação Física que norteou a nossa intervenção se aproxima de tendências pedagógicas que atualmente vem sendo muito discutidas no âmbito escolar, quais sejam: a crítico-emancipatória e crítico-superadora; ambas de fundamentação marxista, distanciando-se dos padrões tradicionais de ensino. Pelas características sócio-econômicas da população do Varjão acredita-se que há pouco espaço para propostas sem fundamentação na perspectiva sócio-histórica.

RESULTADOS:

Uma das maiores questões que enfrentamos foi a violência, muito presente na vida dos estudantes. Verificou-se ao fim do ano letivo, que as crianças continuavam com a mesma disposição para fazerem as aulas, porém sem quase nenhuma briga entre eles. Constatou-se por meio da observação participante e das intervenções que nas turmas trabalhadas, primeira e segunda séries, as agressões, a violência em aula foram minimizadas consideravelmente. O respeito e a compreensão entre os estudantes aumentou de uma forma significativa.

CONCLUSÕES:

A nossa prática pedagógica foi realizada com base na cultura corporal, que são formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas, exteriorizadas pela expressão corporal (Coletivo de Autores, 1992: 38), sendo o Esporte uma das temáticas abordadas, com bastante ênfase, mas não exclusivamente. Entendemos para isso, Esporte Educacional ou Esporte da Escola como um fenômeno social pautado em valores, devendo ser trabalhado de forma contextualizada, para incitar a reflexão, diálogo, procurando a superação de condicionantes sociais como os preconceitos, de raça, de gênero, de classe, o individualismo, a competição exacerbada, a vitória a qualquer custo, a violência, sem qualquer tipo de privilégios e premiações aos melhores. Com isso estamos em busca de uma intervenção diferenciada dos padrões tradicionais de ensino e de esporte, parafraseando Kunz (1994: 64), como afirma o autor: a aula de Educação Física, através da difusão dos padrões esportivos do modelo: treino, competição, atleta, rendimento esportivo, passa a ser mais um mero agente de propaganda e incentivo ao consumo, não só do esporte, mas de tudo com que ele se relaciona .Mas é preciso ampliar o projeto para que um maior número de estudantes sejam atendidos. Os desafios, conflitos, sentimentos e emoções que vivenciamos construíram um forte laço de respeito e confiança com as crianças e com a comunidade escolar.