Resumo
Esta tese dedica-se a problematizar, através de diferentes modos de pensar e escrever, a proliferação, no presente, dos projetos sociais esportivos (PSE). Para isto, em termos de empreendimento, foi colocado em curso o que se denominou “operação cartográfica”, que consiste em mapear e ensaiar esses projetos, tomando-os como acontecimento, sendo que, para esta tese, utilizou-se, como delimitação, a cidade do Rio Grande-RS, no período entre 2008 e 2011. Tais projetos têm-se multiplicado na sociedade brasileira; em sua maioria, veiculam pretensões “salvacionistas” em relação aos indivíduos considerados em situação ou estado de vulnerabilidade social. Os indivíduos assim posicionados são visados por intervenções que se utilizam do esporte como meio para tingir seus objetivos. A hipótese que percorre os textos que compõem esta tese articula-se em torno da ideia de que tais projetos, mais do que se dirigirem a esses indivíduos – “vulneráveis sociais”, vulnerabilizam determinados indivíduos, “inventando” populações – de vulneráveis, e segmentando o “social” para fins de governo. O esporte pode ser considerado um segundo delimitador para a investigação, uma vez que, não houve dedicação para tratá-lo em suas entranhas e, sim, como veículo escolhido para colocar as propostas ditas “sociais” em funcionamento. A tese está dividida, para fins de apresentação, em duas partes: Na primeira, é tratado do que foi aqui denominado “lições de método”, seguindo três noções importantes com que o filósofo e professor Michel Foucault nos contempla em seus escritos como “questões de método”. São estas, a crítica aos universais, as noções de práticas e mecanismos estratégicos e a noção de paradoxo tomados como chaves para pensar; além disto, nesta primeira parte, está registrado o solo “teórico-metodológico” que tornou possível que se tenha qualificado o mapeamento da proliferação dos PSE como “cartográfico” – cartografia rizomática, isto porque não é de qualquer mapeamento que se trata; e, descritas algumas minúcias acerca de vinte e nove (29) projetos mapeados e alguns editais que visam colocá-los em funcionamento. A segunda parte ensaia a proliferação dos PSE, tomando-a como problema para o pensamento e a escrita; composta de textos que se pretendem independentes uns dos outros, nos quais são problematizados os modos de funcionamento desses projetos, a “invenção” de uma população para intervenção, a segmentação do “social”, a vulnerabilização dos indivíduos, de maneira que visam “fazê-los viver” e normalizar. Por fim, não se trata de um conjunto de “textos manifesto” contra os projetos sociais, mas algumas possibilidades de pensar esses projetos para além de sua condição necessária, ou seja, pensá-los no nível de seus “arranjos” estratégicos e contingentes explicitados nos documentos, nos quais se articulam mecanismos e técnicas e pensá-los tomando-os como “políticas da vida” que se caracterizam como coisas de educação e governo e, desta maneira, implicados na constituição e posicionamento de sujeitos.