Resumo

Campinas situava-se como uma das cidades que se urbanizavam nas primeiras décadas do século XX. Buscava-se uma composição entre uma natureza ajardinada, com pomares, parques e praças, jardins e ruas arborizadas, e a turbulência da vida moderna. É essa modernidade que Campinas aspira, importa, usa assimila e chega a produzir, num movimento marcado por contrastes e contradições. São produtos europeus, são formas de comportamento, linguagem, hábitos, visão de universo, símbolos e padrões, educação e disciplina dos sentidos, que os moradores da cidade, vale dizer, a aristocracia e a alta e média burguesia, reproduzem e conferem à própria cidade. (LAPA, 2008, p.19). Percebe-se o desabrochar de novos sentimentos e anseios com relação à natureza que culminaram na elaboração de um plano urbanístico voltado para a circulação de pessoas e para o aproveitamento dos ambientes naturais. Em 1934, foi encomendado o - “Plano Melhoramentos Urbanos de Campinas” - que seria conhecido posteriormente como “Plano Prestes Maia”. Este plano tomava por base o ideário das cidades-jardim e play-grounds, presentes em metrópoles europeias e norte-americanas e concebia uma “Nova” Campinas, uma cidade imersa no ideário de vida ao ar livre através de parques e jardins que compunham seu cotidiano. Esta pesquisa objetiva apontar as propostas de Prestes Maia para a urbanização de Campinas privilegiando as diretrizes ligadas à natureza na cidade através de espaços como praças, jardins, parques e as práticas educativas, de divertimento e esporte associadas a estes espaços já que para o urbanista A necessidade de parques é pouco reconhecida entre nós devido a hábitos viciosos e ideias falsas. [...] Reduzidos a jardins públicos pequenos e sem graça, sem vegetação abundante, sem installações, (que devem ser não apenas bôas, mas optimas e completas), sem as separações naturaes, sem commodidades, sem attractivos, é natural que nossas populações prefiram permanecer em casa ou frequentar cinemas asphyxiantes. Sempre porém, que nos temos aproximado da orientação certa, verificou-se sucesso. [...] O recreio activo é um derivativo, hoje mais que nunca, indispensavel ás populações”. (CAMPINAS, 1938, p.74). As praças, jardins e parques remodelam-se em Campinas como espaços de áreas verdes inseridas na cidade, cuja funcionalidade assenta-se em proporcionar ambientes de sociabilidade, divertimentos, educação e saúde ancorados em um ideário de vida ao ar livre, uma natureza dominada pela mão humana que, supostamente, permitiria uma educação dos corpos e o desenvolvimento de práticas de esporte e divertimentos variados aliados ao desenvolvimento da saúde e do descanso. O projeto urbanístico conhecido como “Plano Prestes Maia” confere destaque a estes espaços como lugar para ‘recreio ativo’, descanso, revigoramento do cotidiano urbano em crescimento.

Referências

CAMPINAS, Prefeitura Municipal de. “Relatório do Dr. Francisco Prestes Maia – Rascunho de Exposição Preliminar”, In Relatório dos Trabalhos realizados pela Prefeitura de Campinas durante o exercício de 1935 - apresentado à Câmara Municipal de Campinas pelo Prefeito Dr. João Alves dos Santos, Campinas: Linotypia da Casa Genoud Ltda, 1938.

LAPA, José Roberto do Amaral. A Cidade: Os Cantos e os Antros. Campinas 1860-1900. 1ª reimpressão. São Paulo, SP: Edusp; Campinas, SP: Editora da UNICAMP; 2008.