Resumo
Introdução: A maioria dos pacientes com doença crônica (DC) convive com a doença por toda vida, exigindo adaptação e ressignificação pessoal em vários setores. Esse processo depende da complexidade e gravidade da doença, da fase do desenvolvimento em que o paciente se encontra, bem como das estruturas psíquicas disponíveis para satisfazer suas necessidades e readquirir equilíbrio. O manejo da fibrose cística (FC) deve ser abrangente, multidisciplinar e contínuo por toda a vida. Informações sobre a doença, aliada ao manejo e diagnóstico precoce, podem diminuir a deterioração causada pela doença, minimizar sua progressão e permitir maior sobrevida e melhor qualidade de vida. Atualmente é crescente o número de indivíduos com FC que chegam a vida adulta. Estudar aspectos envolvidos nesta fase da vida do indivíduo, como satisfação sexual (SS), desempenho físico e qualidade de vida (QV) de quem vivencia uma DC, como a FC é importante para pacientes, familiares e equipe de saúde. Tanto na literatura nacional quanto internacional, no melhor do nosso entendimento, nenhum estudo se propôs a avaliar a QV, SS e desempenho físico de adultos com FC. Objetivo: Correlacionar entre si a QV, SS, desempenho físico e escala de Borg em pacientes adultos com FC. Métodos: Estudo observacional, analítico e de corte transversal, realizado no Centro de Referência de FC da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Como ferramentas para o estudo foram utilizadas: (I) questionário de QV [Cystic Fibrosis Questionnaire (CFQ)]; (II) questionário de SS (QSS) [quociente sexual feminino (QS-F) e masculino (QS-M)]; (III) teste de caminhada de seis minutos (TC6) e escala de Borg. A comparação entre os dados foi realizada pela correlação de Spearman e a diferença entre os sexos pelo teste de Mann-Whitney. Foram incluídos 52 pacientes adultos com FC. Resultados: Houve correlação positiva dos domínios do CFQ e questões do QSS. O CFQ apresentou correlação positiva com a saturação transcutânea periférica de oxigênio da hemoglobina e distância percorrida no TC6 e correlação negativa com a escala de Borg. O QSS apresentou correlação positiva com a distância percorrida e correlação negativa com a escala de Borg. Para alguns marcadores avaliados no TC6 houve associação pontual para domínios e questões avaliados. Pacientes do sexo masculino tiveram melhor pontuação no domínio emocional do CFQ, melhor desempenho no QSS e desempenho físico. Conclusão: Houve correlação entre os testes avaliados. Os homens obtiveram melhores resultados comparados com as mulheres. Sugere-se que a SS deva ser avaliada na QV, juntamente com o desempenho físico. Novas pesquisas devem ser desenvolvidas sobre FC e sexualidade, com objetivo de mais informação e esclarecimento para os interessados no assunto.