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José Reinaldo de Lima, o Reinaldo. Não foi só um grande jogador que atuou pelo Atlético Mineiro. Para além do grande fazedor de gols que possuía técnica refinada, foi um corajoso cidadão que se colocou na luta contra o racismo e a ditadura militar. Comemorando seus gols com o punho cerrado, evocando a luta dos panteras negras do movimento black power, ele denunciava a repressão política. A expressão black power (poder negro) foi criada por Stockley Carmichael, um militante do movimento negro nos Estados Unidos, após sua 27ª detenção, em 1966.
O Partido dos Panteras Negras, no seu auge, em 1968, já contava com 5 mil filiados, o que provocou reações dos órgãos de espionagem do governo norte-americano, desencadeando muitas prisões e assassinatos sob a acusação de que eram terroristas. 
Foi sob este contexto que Reinaldo via seu papel  como ídolo em evidência, para além do grande jogador. Com os punhos erguidos, a torcida do Galo Mineiro gritava.: “Rei, Rei, Rei, Reinaldo é nosso Rei”. A comemoração, inspirada no movimento dos Panteras Negras e nos lendários atletas negros Tommie Smith e John Carlos, demonstrava o posicionamento do ex-atacante contra o racismo e a ditadura.
Em 1978, Reinaldo ouviu a seguinte frase: “Vai jogar bola, garoto! Deixa que política a gente faz”, frase que Reinaldo conta ter ouvido do presidente Ernesto Geisel antes do embarque para a Copa do Mundo de 1978, na Argentina.
Durante a Copa do Mundo da Argentina, em 1978, após um jogo, no hotel da seleção, Reinaldo lembra ter recebido um envelope anônimo da Venezuela. Era, segundo ele, um documento com informações em espanhol sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek em um acidente de carro, dois anos antes. Se deu conta, então, de que poderia estar no radar da Operação Condor, aliança entre ditaduras sul-americanas para perseguir opositores dos regimes militares. “Fiquei aterrorizado, mas não contei a ninguém a respeito do documento”, diz o ídolo atleticano, que foi barrado do time titular por Coutinho depois do empate com a Espanha.
Às vésperas da Copa do Mundo de 1982, a crônica e a torcida brasileira debatiam quem deveria ser o centroavante da seleção na copa da Espanha. Pesquisa na época, realizada pela revista Placar entre jogadores, apontou para mais de 50% dos entrevistados que Reinaldo deveria ser o centroavante da seleção. “No meu time, joga o Rei”, afirmava Sócrates,  em entrevista à Revista Placar, publicada em 4 de setembro de 1981.
Reinaldo não foi convocado pelo técnico Telê Santana para a Copa do Mundo de 1982, disputada na Espanha. Segundo o atacante, o posicionamento político o atrapalhou. Mas Reinaldo está entre os grande ídolos do futebol brasileiro.