Quase 30 anos para um atleta negro vestir a camisa do Palmeiras, as marcas da história
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O esporte chegou ao Brasil o final do século XIX e se desenvolveu ao longo do século XX. Trazido pelas mãos de uma elite educada e formada no regime escravocrata. A mesma elite foi enviada para estudar na Europa e inaugurou a era dos bacharéis: você sabe com que está falando? Frase célebre pronunciada até os dias atuais. Quando na volta ao Brasil, se mostravam deslumbradas pelo comportamento burguês aristocrático inglês e pelo gosto pela moda da burguesia francesa. Os esporte foi algo que empolgou os jovens abastados e não tardou a se desenvolver no Brasil neste período. Tempo de influências do império britânico. Mesmo que tardiamente em relação ao Uruguai e Argentina, o remo foi o esporte da moda dando lugar ao futebol mais tarde. Clubes pipocaram no final do XIX e nas primeiras décadas do XX. A escravidão recém abolida (1888) ainda era parte das relações sociais no país. Tempos de racismo científico, eugenia e higienismo. A Europa era a meta. Branquear a população brasileira era o objetivo. O esporte refletia o racismo científico da pseudo ciência: a eugenia. Os conflitos sociais estavam inaugurados, e os negros tornaram-se o alvo. Negros e mestiços não eram bem vistos, apesar de serem a maioria da população. Enquanto isto, o esporte ganhava a vida. Os sportman eram sinônimo de pertencimento às elites brancas e abastadas pelos quatrocentos anos de escravismo. Clubes de futebol começam a nascer. Rio, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Recife. Aos homens brancos e educados era permitido jogar football. Aos negros, era proibido.
De acordo com os historiadores do Palmeiras por meio do Instituto Palestrino de Estatística, o jogador Og Moreira foi o primeiro jogador negro a atuar pelo que hoje conhecemos como Palmeiras. Falamos do ano de 1942. Ou seja, praticamente 30 anos depois de sua fundação, em 1914, é que um jogador negro vestiu a camisa do clube formado por italianos brancos, na maioria operários pobres, mas que trataram de reproduzir o racismo vigente à época não permitindo não italianos - não brancos - em sua agremiação.
Og esteve presente na primeira mudança de nome – de Palestra Italia para Palestra de São Paulo – e na definitiva, que ratificou o nome para Palmeiras. A mudança de nome foi uma imposição do governo Vargas que acabara de declarar guerra à Itália fascista de Mussolini e, como havia uma enorme colônia italiana no Brasil, principalmente em São Paulo, cercou os possíveis simpatizantes do regime fascista da Itália.
Og foi o primeiro atleta negro a jogar pelo Palestra Itália e permaneceu no clube até 1949, quando teve seu contrato rescindido após desentendimentos com o treinador Osvaldo Brandão.
Enquanto clubes como Corinthians e Vasco da Gama já tinham atletas negros praticamente desde suas fundações, só em 1942 o Palmeiras permitiu em sua equipe principal um negro.
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