Integra

Que tempos! Que semana!
 
Quase tudo foi por água abaixo com a chuva que começou no domingo a noite e se estendeu pela segunda-feira. A água em si remete à natação, ao remo e à façanha de Robert Scheidt em conquistar a vaga olímpica na vela. Que feito! Será sua 7ª participação olímpica, a maior de um atleta brasileiro, que já conquistou 5 medalhas e vai em busca de mais uma. Mudou de classe e voltou às origens diante da possibilidade de perder a chance de uma vez mais competir. Robert não faz isso porque não sabe parar, ele o faz porque continua competitivo, no topo, entre os melhores. E isso o torna digno de homenagem pela determinação com que consegue se manter entre os primeiros do mundo. Sua longevidade está diretamente relacionada a um planejamento rigoroso que envolve treinamento físico e mental. Nada menos do que isso. Vida longa a ele.
 
Mas, a semana também foi feita de cenas que poderiam perfeitamente fazer parte de roteiros de ficção, comédia ou drama.
 
As mentiras ofensivas contra a jornalista Patrícia Campos Mello demonstram a sociopatia dos tempos atuais. O fato em si evidencia a misoginia, o sexismo e o machismo impregnados de cinismo impune. Só não digo que estou inteiramente surpresa porque o esporte foi e é um dos campos onde mais se produziu cenas desse tipo. Basta lembrar que discursos impregnados de pensamento sexista e misógino deixaram as mulheres de fora dos Jogos Olímpicos de 1896. 
E não parou por aí. Nos últimos 100 anos foi necessário muita resistência e determinação para que as mulheres não mais fossem vistas como frágeis ou supérfluas e se tornassem protagonistas do espetáculo esportivo. Foram preciso várias gerações para que hoje houvesse uma equidade entre as participantes da competição olímpica. 
Mas, isso só não basta.
 
Vale lembrar que nem todas as medidas que servem aos homens são igualmente destinadas às mulheres. Acompanho com atenção as discussões sobre como se definem os limites hormonais para que uma mulher atleta possa ou não competir. A naturalização desse processo foi tão bem construída que a discussão não circula mais em torno da tese em si - a testosterona, uma vez que mulheres também a produzem - mas da quantidade possível para que se possa competir. E aquilo que é uma vantagem natural ao homem é considerado quase um crime em um corpo feminino. E o esporte continua a imitar a vida.
 
Em tempos de derrotas o basquetebol feminino perdeu a chance de ir a Tóquio. Depois de conquistar uma medalha de prata em Atlanta e outra de bronze em Sydney o que se viu foi uma falta de cuidado que levou ao desmanche de uma das modalidades mais populares do país. A perda da vaga representa a derrota de uma geração que para voltar a brilhar precisa de uma política institucional para juntar os cacos e seguir em frente.
 
Reflete ainda o que significa hoje o esporte para o país. Tornou-se uma secretaria de um
ministério que tem a importância de abrigar um ministro indesejável de outro endereço. Ou seja, é o tão conhecido "quartinho da bagunça", espaço da casa para onde são enviadas todas as tranqueiras que se tem dó de jogar fora. É quase o purgatório antes de se chegar ao inferno. Difícil é assistir a tudo isso em pleno ano olímpico, pós-década de ouro do esporte. Já vejo aqui e acolá apostas descabidas e previsões de medalhas. Não é tempo de discursos ufanistas, ainda que de alguns seja possível compreender a boa intenção. Enquanto houver mulheres  discriminadas, desprezo pelos mais pobres e incompreensão sobre a importância do esporte para a vida do país é muito difícil acreditar que um lugar no pódio seja a cura para o esquecimento.