Resumo

Este estudo objetivou analisar, por uma perspectiva interseccional, um importante período (década de 1990) para o futebol de mulheres pelo principal veículo de informação de futebol da época, a Revista Placar, com um recorte do editorial Futebol, Sexo e Rock & Roll entre abril de 1995 e fevereiro de 1999. A década 1990, para o futebol de mulheres, é marcada pela volta legal dos times femininos em nível nacional e em nível internacional, com a Seleção Brasileira, além de e apesar da regulamentação e da visibilidade da modalidade no Brasil, outras formas de resistências e violências foram presenciadas dentro de campo. As meninas e mulheres, mesmo asseguradas pela lei, foram esquecidas e invisibilizadas, sofriam com falta de incentivo e investimentos e apesar de tantos empecilhos, ainda eram cobradas por bons resultados. A presença de meninas e mulheres no futebol brasileiro apresenta, historicamente, uma série de transgressões à opressão cisheteronormativa da modalidade construída ao longo dos anos e se antes elas não poderiam se masculinizar com a prática esportiva, na década de 1980 e 1990, as jogadoras deveriam se feminilizar para se tornarem atrativas. Sob a lógica de atrair mais público para os seus jogos e, consequentemente, maiores lucros, a mídia esportiva vendia um padrão cisheteronormativo branco a ser consumido pelos fãs de futebol. Fãs estes - entendidos somente como homens cishéteros - que, junto a mídia esportiva, entendiam que o jogo de mulheres para ser mais atrativo, deveria ser mais sexualizado e assim, mais “feminilizado”. Portanto, as personagens enaltecidas e estampadas na imprensa esportiva, desta época, seguiam o mesmo padrão de beleza: mulheres jovens, brancas, magras, de cabelos compridos (em sua maioria loiros) e entendidas como cisheterossexuais. A análise de 47 exemplares, físicos e digitais, com somente 19 reportagens encontradas confirmam que a modalidade e suas personagens ainda sofriam e resistiam à mesma violência e imposição, desde a proibição em 1941, sobre o ideal de seus corpos e suas funções - biológicas, reprodutivas e sociais - seguidos por uma lógica racista e cisheteronormativa e que apesar de estarem amparadas pela regulamentação da modalidade, ainda sofriam com falta de incentivos e investimentos.

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