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Feitos como o da medalhista olímpica 2008 “Maurren Maggi” são de grande importância para o esporte de alto nível no Brasil, guiçá para o mundo. Demonstram não só a capacidade do/a atleta em superar limites, mas também põem as mulheres no centro das atenções no cenário olímpico.

Nossas heroínas do vôlei “de ouro“, do vôlei de areia de “prata”, do futebol feminino “de prata” serão sempre lembradas e representam no nível do imaginário social a feminilização em um universo que foi, ao longo da história, marcado pela masculinização. Isto porque assim como os atletas paraolímpicos têm dificuldades em conseguir “patrocinadores”, as mulheres também o têm. A esse respeito basta comparar os investimentos no futebol masculino no Brasil com os realizados para o futebol feminino.

Contudo o que nos cabe neste momento é construir uma reflexão sobre o feito de “Maurren Maggi”, isto é, significá-lo com base no estabelecimento de mitos heróicos.

Durante muito tempo, o “esporte nacional” foi representado pela noção do mito heróico com base na noção do “futebol arte”. Neste âmbito a alegria e as habilidades dos jogadores de futebol (hoje, atletas) era o mais relevante a ser destacado, ensejando comentários, mesmo em situação de “derrota”, do tipo: “perdemos, mas jogamos com alegria”, “o craque brasileiro é diferente - joga um futebol malandro, alegre”. Tudo isso para justificar os dribles espetaculares que nossos jogadores realizavam. O “malandro” ou a “malandragem” representava um significado para a construção da identidade nacional. Pareciam meios ou estratégias de justificar a perda, mas também exprimia o sentido, numa concepção de homem cordial, de que: ainda que a gente perca, nós somos os melhores. Os jogadores do futebol arte eram nossos heróis. Mas, hoje quem são?

Voltamos então ao caso “Maurren Maggi”. Após a conquista do ouro olímpico, a atleta não só foi designada para representar o país no final dos jogos, mas também volta ao Brasil e é recepcionada como verdadeira heroína. Todavia muitos esquecem que a mesma atleta foi suspensa de competições por ter se envolvido com o uso de substâncias proibidas no mundo do esporte, o que convencionalmente é chamado de doping. O fato mostra que o brasileiro tem memória curta mesmo. Mas também revela a necessidade de problematizar os modelos construídos pelo esporte de alto nível, que são veiculados e estabelecidos como valores e midiatizados pela indústria cultural, como o caso em tela.

Portanto, o que nos cabe como sujeitos que refletem e problematizam a realidade posta como um dado é encarar - recordando de nossa história - o significado de fatos heróicos dessa natureza. Tais fatos mostram, na verdade, que a construção de rótulos mitificadores podem até contribuir para fortalecer uma “identidade nacional”, resta saber, todavia, que identidade nacional é esta? Será que mais uma vez o “malandro” e o “herói” se confundem na construção da nossa identidade nacional? E questionar: estes são os valores que devemos promover e trabalhar como conteúdo nas nossas escolas?

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