Resumo

Sem movimento ou articulação, vítimas de ofensas racistas, como Tinga, Gil e Aranha, enfrentam sozinhas a escalada da intolerancia banalizada no futebol 

"Alô, vamos pro ataque?" A ligação que Paulo César "Tinga" recebeu horas depois de torcedores peruanos do Real Garcilaso ecoarem grunhidos de macaco a cada vez que tocava na bola foi tão marcante quanto sua fala ao deixar o gramado: "Eu trocaria todos os meus títulos pela igualdade". Do outro lado da linha estava um velho amigo. Manoel Santos, fundador da Central Única das Favelas (Cufa) no Rio Grande do Sul — entidade que conta com o apoio do ex-jogador de Inter e Grêmio desde os anos 2000 —, fez a convocação. Surgia ali a campanha "Chutando o preconceito", o pontapé de um jogador negro em evidência que vai além da conscientização racial. "Não é só o racismo", diz Tinga. "Sem revanchismo, nossa luta é contra todo tipo de discriminação. Por quem é subjugado por causa da cor, do peso, da orientação sexual." A campanha, entretanto, não tem  engajamento maciço de jogadores como o Bom Senso F.C., que cobra responsabilidade fiscal dos clubes e um calendário de jogos mais enxuto. Desde aquele 12 de fevereiro em que o Cruzeiro, de Tinga, jogou sob o caradurismo de racistas no Peru, o futebol brasileiro registrou ao menos 14 ocorrências de racismo envolvendo jogadores, técnicos e até um árbitro. O gaúcho Márcio Chagas da Silva foi ofendido por torcedores do Esportivo e encontrou bananas em seu carro, no estacionamento do clube, em Bento Gonçalves. Ele abdicou da carreira no apito. 
 

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