Resumo

O trabalho explora o que é criado em brincadeiras de criança e como a infância pode ser entendida através da brincadeira, baseado em campo etnográfico em um jardim de infância em Copenhagen, Dinamarca. Através da observação de e envolvimento nas brincadeiras das crianças, venho a perceber que em tais atividades, elementos são manipulados e transformados, promovendo construções curiosas e muitas vezes paradoxais. Independente de quão fantásticas tais construções se apresentam, as crianças raramente definem o que elas fazem como brincar; pelo contrário, elas expressam considerar as atividades nas quais se envolvem como sérias. Ao levá-las a sério, as crianças vivem o que é criado na brincadeira como real. Ao mesmo tempo, as crianças brincam com coisas sérias, as tratando como elementos maleáveis que podem ser transformados. As atividades das crianças ofuscam assim os limites entre brincadeira e seriedade, assim como entre o real e o fantástico. Com isso em mente, eu sigo a forma como os meus informantes abordam a brincadeira e procuro entender como brincar pode ser sério e como o que é criado na brincadeira pode ser real. Isso me leva a entender que as crianças se relacionam com elementos virtuais de forma semelhante a como elas se relacionam com elementos atuais. Por isso, trato virtualidade como um aspecto da realidade (Deleuze 1988) e argumento que através da brincadeira elementos virtuais são atualizados e novas realidades são assim criadas. A partir daí, exploro especificamente como a temporalidade aparece como uma virtualidade que pode ser atualizada na brincadeira. Ações e expressões das crianças desconsideram o tempo enquanto sequencia linear irreversível e parecem tratar passado e futuro como elementos que podem ser manipulados no presente. Investigando como tais manipulações se dão, descubro que o tempo no jardim de infância é melhor entendido como durações, i. e., temporalidades que ocorrem através de atualizações (Deleuze 1988). As conclusões desse trabalho abrem para uma discussão das formas convencionais de se conceber a infância e possibilitam contestar abordagens desenvolvimentistas da infância e da brincadeira. Alternativamente, o trabalho promove uma concepção de infância que não está ligada à categorias de idade, e propõe uma abordagem que acomoda a imprevisibilidade e a inovação. Apoiada no conceito de devir de Deleuze e Guattari (1995) proponho tratar tanto crianças quanto adultos como constitutivamente inacabados. Partindo das concepções sobre crescer apresentadas pelas crianças, e levando em consideração a forma como o tempo e a virtualidade são tratados em suas atividades, argumento que no jardim de infância, a infância se apresenta como uma categoria mais ampla que inclui a fase adulta.

Acessar Arquivo