Resumo
As significativas transformações na dinâmica social, econômica, estética, arquitetônica e formativa do circo, ocorridas nas últimas décadas, levaram ao estabelecimento de diversos modelos de formação do profissional circense. Diferentemente do que aconteceu com outras linguagens artísticas, como a dança, as artes plásticas, a música e o teatro, que obtiveram reconhecimento oficial para a formação de seus profissionais, a qualificação do circense ainda ocorre sem o reconhecimento do Estado, apesar de sua tradição secular e sua importância socioeconômica. Nesse contexto, esta pesquisa analisou alguns aspectos históricos, conceituais, econômicos, arquitetônicos e estéticos, bem como as distintas possibilidades formativas existentes na atualidade brasileira e de alguns países considerados referência na área, visando uma compreensão ampliada sobre essa problemática. Optamos pela abordagem qualitativa, considerando a natureza descritiva e exploratória do estudo, realizando o levantamento dos dados por meio de diferentes técnicas, entre elas a pesquisa documental, a observação direta em oito escolas de circo e entrevistas semi-estruturadas realizadas junto a oito coordenadores pedagógicos e/ou responsáveis por essas instituições. As análises revelam que a formação do artista circense vem acontecendo, de modo concomitante, a partir de escolas especializadas, projetos de circo social, cursos livres, ou por processos autodidáticos, assim como pelo sistema de maior tradição, isto é, no interior das famílias circenses. Embora a oferta tenha-se ampliado significativamente nas últimas décadas, nenhuma das instituições, sejam públicas ou privadas, obteve reconhecimento oficial para a formação oferecida. Observamos, ademais, que as muitas possibilidades formativas acontecem de modo desconexo, com poucas ações de cooperação e de sinergia pedagógica e política, o que certamente dificulta a qualificação dos circenses, bem como o reconhecimento de sua formação pelos organismos governamentais responsáveis. Assim sendo, propomos alguns elementos norteadores para a elaboração de um projeto político -pedagógico para a formação técnica e superior em Arte do Circo, considerando ainda a necessidade de integrar esses níveis formativos às demais possibilidades já existentes, respeitando as particularidades geográficas, estruturais, econômicas e estéticas regionais brasileiras.