Resumo
A literatura traz amplo relato dos benefícios da atividade física (AF) regular para pacientes com cardiopatia isquêmica. Entretanto, em igual proporção tem sido relatada a dificuldade dos profissionais de saúde em promover a adesão e manutenção deste comportamento. Dentre estas dificuldades destaca-se a escassez de estudos experimentais que tenham testado a efetividade de estratégias para direcionar intervenções futuras. Este estudo teve como objetivos avaliar o comportamento e a motivação para prática de AF entre pacientes com cardiopatia isquêmica em seguimento ambulatorial, segundo as variáveis sociodemográficas e clínicas, bem como verificar a efetividade de uma intervenção baseada na combinação sequencial das estratégias de Planejamento da Ação (Action Planning) e Planejamento de Enfrentamento de Obstáculos (Coping Planning), na implementação de AF (caminhada) e estilo de vida mais ativo entre estes pacientes. O estudo foi realizado no Ambulatório de Cardiologia de um hospital universitário do interior do estado de São Paulo, junto a 144 pacientes com coronariopatia isquêmica, liberados para realização de AF. Trata-se de estudo experimental, com três etapas de coleta de dados. Na primeira fase (T0) foram coletados dados sobre a caracterização sociodemográfica e clínica e mensuração das variáveis: Intenção (I0), Comportamento (B0) (caminhada de 30 minutos/dia, 3 vezes/semana) e Atividade Física Habitual (AFH0), mensurada pelo Questionário de Baecke. A seguir os sujeitos foram randomizados em Grupo Controle (GC) e Intervenção (GI). Ao primeiro (T1) e segundo (T2) meses de seguimento, foram feitas novas medidas de Intenção, Comportamento e Atividade Física Habitual (I1, B1, AFH1, I2, B2, AFH2). O GI foi submetido seqüencialmente às estratégias de Planejamento da Ação e de Enfrentamento de Obstáculos. Os dados foram submetidos às análises de comparação, correlação e variância. A amostra foi constituída por homens (63,9%), com média de 59,4 (±8,8) anos de idade, caucasóides (82,6%), inativos (80,5%), com renda individual média de 1,5 (±1,0) salários mínimos e escolaridade média de 4,7 (±2,1) anos de estudo. As medidas dos comportamentos de caminhada e de AFH evidenciaram estilo de vida sedentário pregresso entre os pacientes estudados, porém com motivação elevada para realização de AF futura. Mulheres, com manifestação clínica pregressa de angina e não tabagistas relataram níveis significativamente menores de AF e motivação. Observou-se que idade elevada, menor renda mensal, menor número de condições clínicas associadas, menor tempo decorrido desde a última síndrome coronária e valores mais elevados de índice de massa corpórea foram correlacionados a menores níveis de AF. A intervenção baseada na combinação das estratégias Planejamento da Ação e Planejamento de Enfrentamento de Obstáculo, avaliada em 136 pacientes que completaram o estudo, foi efetiva no incremento dos níveis de AF no GI, comparado ao GC. Houve aumento nos escores da medida do Comportamento (caminhada) e do escore total de AFH ao longo do seguimento em ambos os grupos, sendo constatada diferença estatisticamente significativa na comparação entre os grupos nos tempos T0 e T2. Os dados evidenciam que o padrão de AF e a motivação se modificam entre os cardiopatas isquêmicos de acordo com o perfil sociodemográfico e clínico, bem como apontam a implementação da intenção como uma estratégia valiosa na promoção de AF entre estes pacientes.