Receita Para Se Reconstruir Uma Política Pública
Integra
Amigos:
Para aqueles que aqui me acompanham, na semana passada relatei um fato de Sorocaba/SP, demonstrando a minha indignação com a eliminação, pura e simples de um projeto que ajudei a criar há quase 40 anos na cidade, denominado “Férias Quentes”, que atendia crianças em férias, com vivências lúdicas, abrangendo os mais distintos conteúdos culturais do lazer, e que eram realizadas em diversos lugares da cidade. Inicialmente, com duração de duas semanas, o projeto foi, aos poucos, sendo reduzido para menos de uma, além de ter seu nome alterado nos últimos anos. Felizmente, em aproximadamente 72 horas, essa decisão foi revertida e o mesmo jornal que trouxe a notícia de sua extinção no domingo, já na quarta trazia como manchete “Prefeitura divulga que fará a 70ª edição do Férias Quentes”. http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/524614/prefeitura-divulga-que-fara-a-70-edicao-do-ferias-quentes.
Quero aproveitar esse episódio para refletir sobre três importantes elementos – entre tantos – no desenvolvimento de políticas públicas. Em primeiro lugar, a dificuldade de se transitar do conceito de “política de governo” para “política de estado”. Infelizmente ainda é uma prática comum em nosso país, na troca de governantes – especialmente se for de outro partido político – “desconstruir” o que foi feito anteriormente (seja modificação ou extinção), na maioria das vezes, sem critérios de qualidade e sem uma avaliação mais acurada. Em segundo lugar, em recente trabalho junto ao SESI/Departamento Nacional, envolvendo todos os 27 Departamentos Regionais (Estados) durante mais de cinco anos, criamos diversas ferramentas gerenciais para atender as demandas do projeto denominado “Gestão e Otimização de Espaços de Cultura e Esporte e Lazer”. Uma delas nós denominamos “Espiral Virtuosa de Gerência Estratégica do Lazer” na qual sintetizamos o pensamento de vários autores de como abordar um assunto novo em termos de gestão. De forma simplificada, essa ferramenta está baseada em cinco passos: (1) sensibilização, (2) mobilização, (3) capacitação das pessoas, (4) implementação das ações e (5) acompanhamento e avaliação dos resultados, seguido da retroalimentação desse processo descrito. Portanto, frente a uma situação nova (exemplo: mudança de governo), é fundamental conhecer os fatos (principalmente sua história) para que o processo de sensibilização se transforme em mobilização, onde as pessoas possam construir, de forma melhorada, aquilo que se propõe a fazer através da efetiva implementação das ações necessárias. A partir daí, é igualmente essencial trabalhar com os conceitos de avaliação formativa e somativa visando dar o devido acompanhamento às ações propostas para que uma nova sensibilização se instale reiniciando, de forma qualificada, esse processo (vem daí a idéia de “espiral”).
Finalmente gostaria de abordar o binômio legalidade/legitimidade. Uma política pública se faz com a ajuda da primeira, mas raramente se mantém sem a segunda. O reconhecimento dos beneficiados por um dado serviço é condição básica para a sua continuidade e qualificação.
Ousaria dizer que a “ressurreição” das Férias Quentes (sim, com a recuperação também do nome original), foi fruto de algumas reflexões que acabo de fazer. A repercussão da extinção do projeto causada na comunidade foi maior que esperada. Ainda estamos aprendendo a extensão das mídia sociais na sensibilização e mobilização das pessoas. Quando a causa é legítima a possibilidade de ações de governo se transformarem em ações do estado (melhoria continuada) fica amplificada. Creio que foi isso que ocorreu no caso Férias Quentes. De minha parte, expressei meu estranhamento neste blog, mantive o debate vivo no facebook, escrevi a três secretários da prefeitura (por sorte, conhecidos e amigos) e reconheci a iniciativa de um dos vereadores em perguntar formalmente à prefeitura a razão da extinção do projeto.
Para finalizar, não posso deixar de enaltecer a visão madura, tanto política como técnica dos secretários Yabiku (Esporte e Lazer) e Jaqueline (Cultura) representada por um almoço que tivemos no meio da semana para discutirmos o futuro das Férias Quentes.
Vale à pena lutar por aquilo que acreditamos!
Abraços.
Bramante
Por Bramante
em 10-01-2014, às 19:08
13 comentários. Deixe o seu.
Comentários
Bramante,
Parabéns pelo sucesso dessa verdadeira cruzada que empreende há anos. Coloco-me à sua disposição e das prefeituras interessadas em desenvolver atividades lúdicas para a criançada e adultos. Quanto aos primeiros, como bem sabe, sou especialista em ações para grande número de indivíduos na área do voleibol.
Quando quiser, avise-me.
Por Roberto A. Pimentel
em 11-01-2014, às 9:18.
Grato Roberto pela sua vigilante interconectividade!
Como vc pontuou numa de suas mensagens, seria ótimo se ainda tivéssemos um Valdebi Romani para continuar estimulando a democratização do volibol (que é bem diferente da “massificação” da modalidade…). Abraços.
Por Bramante
em 11-01-2014, às 12:16.
Olá Bramante,
Mais do que simples vigilante, percebo que muito tenho a aprender estando próximo de você. Seus ensinamentos me contagiaram. Grato por permitir estes contatos e acompanhá-lo em sua caminhada alguns passos atrás.
Lembro que meu projeto não se vale somente do voleibol, mas pretende ter alcance poliesportivo. A principal matéria ali desenvolvida é referente à Metodologia e Psicologia Pedagógica, aplicável a qualquer modalidade esportiva e ao ensino em geral. Tanto que alguns princípios pedagógicos fui buscar em George Pólya, matemático húngaro residente nos Estados Unidos e há muito falecido. A visão que me inspira é levar o professorado a “Aprender a Ensinar”, uma das muitas deficiências de nossas universidades, em especial PEDAGOGIA.
Por Roberto A. Pimentel
em 11-01-2014, às 19:26.
Opa, Bramante,
Parabéns pela mobilização. Acho que foi salutar a gente economizar o tempo que perdíamos nas infindáveis reuniões de departamentos e comissões da universidade.
Laercio
Por laercio
em 12-01-2014, às 10:20.
Sim Laércio, valeu. Embora compreenda que cada coisa ocorra no seu devido tempo, tanto de nossas vidas como no contexto nas quais essas reuniões ocorreram. Eu sempre fui adepto de “pautas” na reuniões que eu dirigia tanto na chefia de departamento como na de da comissão de pós na FEF/Unicamp. No entanto, participei de reuniões que mais pareciam “fóruns” (sem tempo para acabar…rs). Bramante
Por Bramante
em 12-01-2014, às 11:07.
Caro Roberto, dizem que “o mundo conspira a favor” quando, de forma desinteressada, busca-se o conhecimento para colocá-los à disposição das demais pessoas. Ao você compartilhar a visão que lhe inspira (“Aprender a Ensinar”), lembrei-me da visão da Fundação Luiz Almeida Marins Filho, extraordinário educador (ainda vivo!) e conhecido consultor que se utiliza dos ensinamentos da antropologia para aplicá-los na gestão de empresas. Amigo e compadre, quando fez 50 anos de idade, reunimos 20 amigos comuns para lhe dar de presente uma fundação, cuja visão é “Ensinar a aprender”. Se lhe interessar, conheça mais o que fazemos, de forma voluntária, no link http://www.anthropos.com.br/fundacao-luiz-almeida-marins-filho.html
Por Bramante
em 12-01-2014, às 11:32.
Obrigado Bramante. Exemplo de participação comprometida com o melhor para todos.
Cidadão é isso, coragem para fazer e não só para resmungar por que “eles“ não fazem.
Quanto mais o tempo passa, mais experiências, melhor discernimento –> geração de melhores resultados para os que não se acomodam (ou até: não se acovardam).
São a ideias que mudam o mundo, e as suas tem contribuído para um mundo melhor.
abraços, Cunha
Por Cunha
em 13-01-2014, às 1:04.
Olá Bramante,
Muito obrigado por sua valiosa contribuição e oportuna menção. Veja o resultado imediato:
Senhores,
Tomei conhecimento da Fundação através do blog do Bramante, com quem tenho mantido correspondências sobre o meu trabalho voluntário.
Produzi um projeto com a missão de contribuir para que professores de Educação Física e Treinadores “Aprendam a Ensinar”. Assim, produzirão melhores aulas, suprindo a deficiência de nossas Universidades, especialmente de Pedagogia. Gostaria de me juntar aos seus esforços e contribuir ainda que com um pouco do que produzo. Seria importante que examinassem o que se contém no Prezi, um sítio exclusivamente educacional: http://prezi.com/9nhuhq5t7coh/procrie/ Esclareço que tenho conhecimento da Missão e Visão da Fundação.
Atenciosamente,
Por Roberto A. Pimentel
em 13-01-2014, às 10:37.
Grato companheiro Cunha pelos seus comentários! Sei que você também é do tipo de “por a mão na massa”!
Por Bramante
em 13-01-2014, às 12:42.
A prefeitura extingue e depois fala que não sabia de nada. É lamentável a perda de uma atividade tão importante e sadia. Vamos lutar para que volte. Ou será que o prefeito vai querer terceirizar isso também?
Por Eduardo Luis C. Vieira
em 14-01-2014, às 17:09.
Caro Eduardo, vamos celebrar que exatamente hoje a Prefeitura de Sorocaba deu início a 70a. edição das “Férias Quentes”!
Por Bramante
em 27-01-2014, às 22:24.
Caro prof. Bramante,
Parabéns pela mobilização e por conseguir manter um trânsito saudável no ambiente político sem deixar a competência e importância técnica, independentemente da chapa que está na situação.
Conheço a Jaqueline e sua competência e fico mais feliz ainda em saber que ela esteve envolvida em todo esse processo de reconstrução, afinal, não é sempre que uma programa mantém-se vivo de forma sustentável por 70 edições.
Quem venham muitas outras 70 edições!!!
Abs e mantenha-nos atualizados!
A
Por Alan Q Costa
em 4-02-2014, às 0:43.
Caro Alan, as (boas) notícias que eu tenho foi que 1.200 crianças foram atendidas durante uma semana de “Férias Quentes” encerradas no último sábado e que agora a Prefeitura também vai recuperar um trabalho que desenvolvemos em 2001-2002 na formação de Agentes Voluntários Jovens para dar suporte a essas atividades no decorrer deste ano. Na ocasião denominamos de “Lazer Levado a Sério” esse projeto, emprestando o conceito que tratei por aqui de Stebbins. De fato, Jaqueline é um quadro de grande qualidade! Abs
Por Antonio Carlos Bramante
em 4-02-2014, às 15:45.