Resumo


Apresentam-se aqui elementos do processo criativo da cena performativa Ô, bença! (BRAGA, 2020) refletindo sobre como esta criação pode colaborar para a discussão sobre o reconhecimento e representação de artesãs do Vale do Jequitinhonha-Minas Gerais-Brasil que viveram ou ainda vivem sob ataques em seus corpos. Ô, bença! foi apresentada inicialmente em dezembro de 2020, no banheiro de um apartamento, com a duração aproximada de 16 minutos e veiculada por streaming, pretendendo uma revisão e ampliação em 2021. Esta criação se relaciona com atividades de pesquisa performativa em atuação realizadas pela autora pesquisadora, que inclui procedimentos de investigação criativa guiada pela prática artística. O trabalho aqui apresentado busca revelar um manejo performativo em processo que entra em contato com o sofrimento de mulheres artesãs. O sofrimento se revela: na própria estrutura básica de vida de algumas dessas artesãs que não possuem água encanada ou mesmo um banheiro dentro de casa; nas responsabilidades que algumas delas assumiram em suas vidas, como o cuidado de pessoas gravemente doentes da família, realizando um trabalho doméstico de cuidados, sem remuneração, de um ente familiar; na alta valorização financeira de algumas de suas peças artesanais em cerâmica, mas sem que tal retorno chegue, de fato, até suas mãos criadoras podendo, assim, gerar alguma mudança efetiva em suas vidas. E, diante do sofrimento observado, discute-se, por meio da prática performativa e reflexiva, sobre as possibilidades e limitações de sua minimização, destacando-se a problematização da ideia de representação (SÁNCHEZ, 2016) e a atuação com o mascaramento expandido. Com este último, mostra-se a instalação da “performã” que valoriza o gênero feminino em diálogo com a maneira artesã de se fazer algo, bem como a materialização de uma ação/objeto performativo, em tempo presente, dizendo daquela que performa. Por fim, o trabalho indaga as possíveis conquistas e falhas nos processos de reconhecimento social de determinadas artesãs mineiras do Vale do Jequitinhonha, mostrando como tais perguntas também se inserem na criação e desenvolvimento atual da performance de Ô, bença! abrindo-se diálogos.