Resumo

O acesso à informação é, nos dias que correm, um factor determinante do desenvolvimento individual e colectivo. Com o advento da informática e dos computadores, a forma como acedemos a essa informação mudou radicalmente. Os sistemas de gestão da informação tornaram-se cada vez mais sofisticados na sua estrutura interna e, simultaneamente, cada vez mais simples de utilizar, mesmo por parte de cidadãos não treinados. Por outro lado, a realidade das novas tecnologias da informação e da comunicação tornou possível uma abordagem diferente à gestão integrada do património, numa perspectiva de disponibilização de produtos e serviços favorecedora do acesso à informação, sem comprometer as funções de preservação, num quadro de relacionamento entre as instituições e a comunidade mais rico e dinâmico.

Esta mudança tem vindo a promover uma efectiva democratização no acesso à informação, porque o enfoque do trabalho especializado passou do acesso efectivo à informação para a estruturação dos mecanismos que permitem esse acesso, por parte de qualquer pessoa, independentemente do grau dos seus conhecimentos sobre a matéria a pesquisar.

O impacto desta realidade na organização e na requalificação dos profissionais ligados à documentação e informação foi, não temos dúvida em afirmar, profundo. Embora a transformação não esteja ainda completa, parece lícito afirmar-se que o investimento realizado nos últimos anos em infra-estruturas e formação de recursos humanos foi de grande magnitude, fazendo com que qualquer cidadão nacional, independentemente do local do país onde reside, estuda ou trabalha (com algumas excepções), tenha acesso a fundos documentais com possibilidade, na maior parte dos casos, de obter empréstimos domiciliários e acesso gratuito à internet.

Os países de língua portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, representam, simultaneamente com a unidade decorrente da língua comum, uma diversidade enriquecedora decorrente da dispersão geográfica que se estende por três continentes. Se a este quadro juntarmos as comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo num total estimado em cerca de 150 milhões de pessoas, podemos verificar a importância da língua portuguesa no mundo.

Por outro lado, o desporto, enquanto factor de aproximação entre os povos configura-se como um instrumento privilegiado para o estabelecimento de sinergias e entendimentos de uma forma extremamente rápida.

Considerando também que grande parte das zonas geográficas por onde se estende a comunidade de expressão portuguesa se caracterizam como desfavorecidas no que diz respeito ao acesso à informação ou à divulgação da informação, a criação de uma rede de informação desportiva dos países de língua portuguesa pretende ser um contributo para minimizar assimetrias e aumentar a visibilidade do desporto nesses países.

Informação significa capacidade de desenvolvimento, e essa capacidade de desenvolvimento traduz-se em desenvolvimento efectivo quando, depois da informação disponível ser tratada, se transforma num instrumento útil para os fins a atingir, e se afectam ao processo os recursos necessários à sua implementação, ao mesmo tempo que são criados mecanismos de controle  e avaliação do mesmo.

Se a passagem da recolha da informação para o seu tratamento pressupõe, desde logo, a identificação precisa dos conteúdos relevantes, a determinação e afectação dos recursos necessários ao desenvolvimento de um projecto levanta, por vezes, problemas relativos à incapacidade para a obtenção de recursos ou à incapacidade para a gestão desses mesmos recursos.

Por este motivo, é óbvio que a criação de uma rede de informação implica:
- Por parte dos destinatários da informação, a capacidade de a compreenderem e tratarem, usando-a posteriormente em benefício de um objectivo individual ou colectivo.
- A interactividade, gerindo assim a capacidade de se ajustar às expectativas e anseios dos destinatários.
- A oferta de formação inicial e contínua aos destinatários da informação, através de produtos e serviços desenhados de acordo com as necessidades identificadas.
- A previsão do seu desenvolvimento sustentável com recurso a técnicas de avaliação e controlo objectivas, aplicadas por profissionais especializados, promovendo assim a capacidade de ajustar o sistema à realidade de uma forma atempada e coerente.

O sistema que se pretende construir estará dirigido para a informação desportiva relativa a conteúdos de suporte cuja recolha, tratamento e divulgação estará a cargo, em primeira instância, das administrações públicas desportivas dos países em causa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-leste), em estreita ligação com os movimentos associativos desportivos e os sistemas universitários de cada país.

Portanto, o presente projecto, mais do que uma declaração de intenções pretende ser um documento de trabalho objectivo e razoavelmente aprofundado que, depois de discutido em sede própria, possa ser o suporte para a criação da Rede de Informação Desportiva dos Países de Língua Portuguesa – CPLPSport.

Pretende-se ainda promover, ao mesmo tempo, uma circulação de informação desportiva eficaz e sistematizada quer a nível interno da comunidade, quer com o exterior da mesma, cooperando com redes análogas e instituições exteriores, nomeadamente através do intercâmbio de informação e documentação desportiva, e da organização conjunta de acções ou eventos.

A criação de uma rede com estas características, visa essencialmente alcançar finalidades que se prendem com: (i) a promoção e defesa do uso da língua portuguesa como código de comunicação privilegiado na divulgação de informação desportiva junto dos países de língua portuguesa; (ii) prevenir e corrigir fenómenos de exclusão directamente relacionados com o acesso à informação desportiva no seio dos países de língua portuguesa e promover o desenvolvimento dos sistemas desportivos dos países de língua portuguesa.

Para além destas existe um conjunto de objectivos de ordem geral, que deverão ser considerados:

- Harmonizar os processos de recolha, tratamento e divulgação de informação desportiva em língua portuguesa.
- Proceder de uma forma sistemática e criteriosa à recolha, tratamento de informação desportiva, relativa ou não aos Países de Língua de Portuguesa, e à sua divulgação em língua portuguesa.
- Aumentar o acesso à informação desportiva em língua portuguesa dos cidadãos lusófonos espalhados pelo mundo e, em particular, os residentes nos países africanos.
- Caracterizar a oferta e a procura de formação de agentes desportivos nos países de língua portuguesa.
- Caracterizar as estruturas desportivas dos países de língua portuguesa.
- Caracterizar a oferta e a procura da actividade física nos países de língua portuguesa.
- Caracterizar o grau e a natureza da utilização de novas tecnologias por parte dos agentes desportivos dos países de língua portuguesa.
- Potenciar o desenvolvimento dos sistemas desportivos dos países de língua portuguesa.
- Desenvolver mecanismos interactivos de participação generalizada na colecção de informação a tratar e divulgar.
- Estimular o desenvolvimento de projectos de cooperação por parte das federações desportivas dos países de língua portuguesa.
- Rentabilizar os processos de cooperação bilateral e multilateral, no domínio do desporto, dos países de língua portuguesa, aumentando a velocidade e a qualidade da recolha e divulgação de informação, produzindo também, desta forma, uma redução dos custos relativos a essa cooperação.
- Promover processos de formação à distância via internet.

O projecto de criação da rede de informação desportiva iniciouse em 2000, tendo-se realizado acções de formação em Lisboa, Angola, S. Tomé, Guiné-Bissau, Moçambique e Cabo Verde. Para além das acções de formação foram criadas delegações nos diferentes países da CPLP, com meios tecnológicos adequados às solicitações deste projecto.

Em 2001, foi criado o sítio internet da CPLPSport, que se constitui como o principal meio de divulgação da informação produzida no seio da rede e de estabelecimento de ligações com outros organismos externos produtores de informação desportiva.

Diversos factores que se prendem, entre outros, com a instabilidade política dos diferentes países, com alguns erros estratégicos cometidos na fase de criação da rede e com a falta de adesão do Brasil, levaram à interrupção deste processo.

Desde o início de 2004, Portugal, através do IDP, tenta reestruturar este projecto de forma a conseguir a sua reactivação.

Alguns passos importantes foram dados, destacando-se a aprovação do projecto, por unanimidade, na última reunião de ministros responsáveis pelo desporto da CPLP, realizada no passado mês de Maio no Porto.

À luz destes dados, a nossa intervenção no X Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa, focalizar-se-á sobre o projecto de reactivação da CPLPSport, quais os passos que estão a ser dados e quais os que virão a seguir, com um ênfase especial sobre o papel das universidades e quais as relações que poderão ser estabelecidas.

Bibliografia
AQUESOLO, J.; BERASATEGUI, M-L.; CLARKE, N.; NIQUET, J.P.; PONCET, A. (2001). Manual do Centro de Informação Desportiva. Comité Olímpico Internacional. (Versão portuguesa). Lisboa: Centro de Estudos e Formação Desportiva.

CEFD (1999). Documento de apresentação do projecto de criação da Rede de informação desportiva da CPLP – CPALPSport. Lisboa: Centro de Estudos e Formação Desportiva.

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