Resumo
A terapia antirretroviral combinada (TARV) trouxe uma nova perspectiva para os indivíduos portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), reduzindo a mortalidade e transformando a infecção em uma doença crônica. Entretanto, sua utilização está condicionada ao aparecimento de inúmeros efeitos adversos, incluindo casos de atrofia muscular, perda de peso e disfunções neurológicas, como resultado tanto da infecção pelo HIV quanto do uso da TARV. Considerando a associação da força muscular ao risco de mortalidade e de hospitalização, e a importância desta variável na realização de atividades rotineiras, este estudo teve por objetivo avaliar parâmetros de força muscular dinâmica e isocinética em homens e mulheres vivendo com HIV/AIDS em tratamento com terapia antirretroviral. A amostra contou com 69 sujeitos, sendo 44 HIV+ (20 homens e 24 mulheres) e 25 HIV- (11 homens e 14 mulheres), com média de idade de 45,1 ± 8,5 anos e tempo médio de uso da TARV de 10,6 ± 5,4 anos. Foram realizadas as seguintes avaliações: bioimpedância elétrica para estimativa da composição corporal; movimentos de flexão e extensão do joelho em dinamômetro isocinético, nas velocidades angulares de 60 e 180°/s, para avaliação da força isocinética; teste de 1 repetição máxima para os exercícios supino horizontal, leg press e rosca direta de bíceps, para avaliação da força dinâmica; e análises bioquímicas. O grupo HIV+ apresentou menor valor na carga máxima do exercício leg press e em algumas variáveis isocinéticas: na velocidade de 60°/s, potência média e trabalho total para o movimento de flexão; e na velocidade de 180°/s, pico de torque, pico de torque/massa, potência média e trabalho total para o movimento de flexão, e potência média e trabalho total para o movimento de extensão. Quando comparados por sexo, na força dinâmica os homens HIV+ apresentaram menores valores em todas as variáveis quando comparados ao controle, o que não ocorreu nas mulheres. Na força isocinética, novamente os homens apresentaram menores valores em todas as variáveis quando comparados ao controle, enquanto as mulheres apresentaram maiores valores no pico de torque no movimento de extensão a 60°/s, pico de torque/massa no movimento de extensão a 60°/s e pico de torque/massa no movimento de extensão a 180°/s, e menores valores na potência média nos movimentos de extensão e flexão a 180°/s, e trabalho total no movimento de flexão a 180°/s. Por fim, como forma de avaliar um possível efeito cumulativo da toxicidade da TARV no organismo, os sujeitos foram comparados em dois grupos: menos e mais de 10 anos de uso de TARV, e não foi encontrada diferença em nenhuma das variáveis. Os resultados do presente estudo demonstram que sujeitos HIV+ em uso de TARV apresentam menores valores de força dinâmica e isocinética quando comparados a controles HIV-, sendo que esta diferença ocorre nos homens, mas não nas mulheres.