Resumo

A literatura indica que a competência motora está relacionada com a percepção de dificuldade da tarefa, pois indivíduos mais competentes percebem a tarefa como mais fácil. É possível então que os indivíduos com maior competência motora auto estabeleçam metas mais difíceis para tornar a tarefa mais desafiadora, e que tais metas levem a melhor aprendizagem motora do que as metas fáceis. Porém, ainda não foi investigada a relação da competência motora com a dificuldade das metas auto estabelecidas na aprendizagem de uma habilidade motora de crianças, sendo esse o objetivo do presente estudo. Participaram do estudo 48 crianças entre 8 e 10 anos de idade. A competência motora foi avaliada pelo instrumento denominado Motor Competence Assessment (MCA). A tarefa utilizada foi o lançamento de um saco de feijão (100g) ao alvo, a 3m de distância dos voluntários, realizado por baixo do ombro, com o braço não dominante. Foram formados 2 grupos experimentais: Grupo Baixa Competência Motora (GBCM) e Grupo Alta Competência Motora (GACM). O delineamento constou de pré-teste, fase de aquisição, teste de retenção e teste de transferência. O pré-teste teve 10 lançamentos sem metas estabelecidas. A fase de aquisição ocorreu 5 minutos após o pré-teste e teve 8 blocos de 10 lançamentos, sendo que os voluntários deveriam auto estabelecer uma meta antes do início de cada bloco. Os testes de retenção e de transferência ocorreram 24 horas após a fase de aquisição e tiveram 10 tentativas sem metas estabelecidas, sendo que no teste de transferência, a distância de lançamento foi aumentada para 3,5m. As variáveis dependentes foram: pontuação obtida na tarefa, percentual do tempo para o pico de velocidade (%TPV), velocidade final e número de correções do braço nos lançamentos. A dificuldade das metas foi considerada como o percentual de pontuação que a meta representava em relação a pontuação inicial. Na análise estatística foi realizada uma correlação de Pearson entre o nível de competência motora e a dificuldade das metas auto estabelecidas. Também foi realizada uma ANCOVA, tendo como variável independente o nível de competência motora e como covariável a dificuldade das metas na fase de aquisição, uma ANOVA two way (2 grupos x 2 blocos) para o primeiro bloco da fase de aquisição e o teste de retenção, e um teste t independente no teste de transferência. Não foi encontrada relação significante entre competência motora e dificuldade das metas auto estabelecidas (r = 0,14; p = 0,4). Na fase de aquisição houve efeito positivo da competência motora nas pontuações (p = 0,05) e na consistência da velocidade final (p = 0,01). Na análise do primeiro bloco com o teste de retenção, o GACM obteve maiores pontuações (p = 0,01) e maior consistência da velocidade final (p = 0,01), resultados que se repetiram no teste de transferência (p = 0,01). Não houve efeito da competência motora no %TPV (p = 0,57) nem no número de correções (p = 0,46) durante a fase de aquisição. No primeiro bloco da fase de aquisição e no teste de retenção não houve diferenças entre os grupos no %TPV (p = 0,06) nem no número de correções (p = 0,76). Também não houve diferença entre os grupos no %TPV (p = 0,15) nem no número de correções (p = 0,65) no teste de transferência. A dificuldade das metas auto estabelecidas não teve efeito em qualquer variável dependente. É possível concluir que a competência motora leva a melhor aprendizagem de uma habilidade motora em crianças, mas não está relacionada com o auto estabelecimento de metas e nem possui efeitos na utilização dos mecanismos de controle motor.

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