Resumo

O objetivo da tese foi analisar as associações entre o padrão e os tipos de comportamento sedentário (CS) com o desempenho acadêmico (DA) durante a adolescência, com controle de variáveis fisiológicas (fator neurotrófico derivado do cérebro [BDNF]), cognitivas (função executiva [FE]) e de saúde mental (sintomas de depressão e ansiedade). O presente estudo se refere à segunda fase (follow-up) de um estudo longitudinal de base escolar, para o qual foram elegíveis os indivíduos que possuíssem dados completos na primeira fase (baseline), totalizando uma amostra de 394 escolares. Em ambas as fases foram coletadas informações sociodemográficas (escolaridade da mãe e idade), CS (acelerometria e questionário), atividade física (acelerometria), horas de sono (questionário) e DA (DA global; DA em português [DA PORT]; DA em matemática [DA MAT]). No follow-up foram coletadas as variáveis de FE (controle inibitório [Teste de Stroop] e memória de trabalho [Teste de blocos de Corsi]), BDNF (coleta sanguínea) e sintomas de ansiedade e depressão (questionário). Análises de regressão linear múltipla, com os devidos ajustes, foram realizadas no programa STATA 15.1, adotando-se P<0.05. Participaram do estudo 150 adolescentes, com média de idade de 14.5 (0.7) anos. Maior tempo em bouts prolongados em CS (≥30min), no início da adolescência, foram associados com menor DA (DA global: β= -0.03; P=0.010; DA MAT: β= -0.03; P=0.012) três anos depois, independentemente da FE e do BDNF, apenas para as moças. Para os rapazes, maior tempo em bouts sedentários prolongados (15 a 29 min) no baseline, foram associados com maior DA (DA PORT β=0.05; P=0.041), independente da FE e do BDNF. Com relação aos tipos de CS, para as moças, o tempo de vídeo, redes sociais e CS educativo (estudo, leitura e tarefa) no baseline foram associados com maior DA global no follow-up, independentemente dos sintomas de ansiedade (VÍDEOS: β=0.08; P=0.037; REDES SOCIAIS: β=0.14; P=0.038; CS EDUCATIVO: β=0.11; P=0.005) e dos sintomas depressivos (VÍDEOS: β=0.07; P=0.036; REDES SOCIAIS: β=0.15; P=0.016; CS EDUCATIVO: β=0.10; P=0.004). Ainda para as moças, os sintomas de depressão e ansiedade foram negativamente associados com os indicadores de DA (β=-0.02; P<0.05). Conclui-se que, para as moças, um padrão de CS menos fragmentado no início da adolescência, e maiores sintomas de depressão e ansiedade estão associados com menor DA. Por outro lado, alguns tipos de CS (tempo assistindo vídeos, rede social, leitura, estudo e tarefa) no início da adolescência foram associados com melhor DA, o que demonstra que, especificamente para as moças, os tipos de CS podem influenciar o DA, mais do que variáveis cognitivas (FE) e fisiológicas (BDNF). Para os rapazes, os tipos de CS e a saúde mental não foram associados ao DA, enquanto que um padrão sedentário menos fragmentado foi associado com maior DA. Dessa forma, diferentes padrões e tipos de CS se associam ao DA de maneiras distintas entre os sexos, o que deve ser considerado em estudos de intervenção que visem diminuir o CS e melhorar o DA durante a adolescência.


 

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