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 Nossa intenção foi de retratar de que forma os jovens vêem os velhos e também como eles percebem o seu próprio processo de envelhecimento. Este trabalho foi realizado com estudantes que tinham entre 10 a 20 anos de idade que pertenciam as escolas públicas em que atuávamos no ano 2000.


 A face da velhice.


 O envelhecimento da população brasileira é um fato incontestável (VERA,1994) e a importância da conscientização de nossos jovens com o processo de envelhecimento (ALVES JUNIOR,1998) levaram-nos a necessidade de analisar a formação imaginário social sobre a velhice. De acordo com FARIA JUNIOR (1997), os idosos fazem parte do grupo de ‘marginalizados’ de nossa sociedade pelo fato de sua capacidade produtiva ser considerada diminuída . "Com isso passam a ser vistos como um grupo minoritário marcado por uma série de rotulações negativas, o que tem contribuído para a construção social negativa estereotipada e preconceituosa da velhice".(FARIA JUNIOR.1997.op.cit).


 Essa discriminação acaba tirando a identidade dos mais velhos, induzindo-os ao isolamento, asilamento e a morte social, fomentando a idéia de inutilidade e dependência.


 No Brasil existe uma acentuada desigualdade no quadro socio-econômico onde grande parte são de idosos e se encontram na pobreza, sendo obrigados a conviver com o sofrimento, a violência, a discriminação social e desrespeito a sua cidadania.
Diante dos relatos apresentados pelos nossos alunos outro dado importante a ser interpretado são as fantasias passadas pelos contos de fadas. Esses são repletos de imaginação, difusores de modelos, de regras comportamentais, de padrões morais, impregnados de significações ideológicas e valores estéticos e sociais.


 Situações encontradas no dia a dia da família, por vezes, coloca a imagem do idoso como ‘vilão-vítima’. Em histórias infantis tais como Branca de Neve, Rapunzel e Chapeuzinho Vermelho são refletidos conceitos e preconceitos que reforçam o estereótipo dos idosos que são armazenados na memória das crianças.


 É explícita a valorização do jovem pela sociedade em detrimento do idoso. Isso pode ser comprovado em charges, jornais e muitos outros meios de expressão. Na televisão, especialmente nos programas humorísticos projetam-se visuais de velhos colocando-os em situações muitas vezes ridículas e constrangedoras .


 Como são pequenos consumidores e por não serem mais produtivos , os idosos ocupam espaços reduzidos e pouco tempo nas imagens televisivas quase sempre na maior parte dedicadas a crianças, jovens e adultos de meia idade.


 Outro exemplo de imagem sobre velhice encontra-se na simbologia citada por Paz (2000) através de estátuas referenciando as estações do ano com as fases da lua, ciclo solar, idade humana e seus atributos. Em síntese, as correspondências são as seguintes:


 FASES DA LUA

(MULHER) CICLO SOLAR IDADE HUMANA ATRIBUTOS

Crescente Primavera Infância Vivacidade
Nova Verão Adolescência/juventude Vitalidade
Cheia Outono Maturidade Exuberância
Minguante Inverno Velhice Fragilidade


 As imagens observadas no quadro acima influenciam na formação do imaginário, mas não significa que elas sejam eternas ou imutáveis. Necessário se faz uma conscientização dos jovens e dos velhos sobre a importância de cada um na sociedade colaborando para a construção de seu desenvolvimento cultural, social e econômico.


 A partir de questionamentos levantados nas aulas do curso de pós graduação da disciplina sobre ‘Preparação para um envelhecimento saudável’, vimos a necessidade de reavaliarmos a nossa prática na escola. Procuramos adequar nossos questionamentos ao que sugere "os temas transversais" contido nos parâmetros curriculares (BRASIL,1997) tendo em vista que ‘a escola, mais que transmitir conhecimentos consolidados, deve capacitar os alunos a adquirir novos conhecimentos em um processo permanente de aprendizagem"(Ibid).


 Baseando-se na proposta anteriormente citada, procuramos incluir questões nos nossos alunos da importância de uma prática regular de atividades físicas a fim de serem mantidos hábitos saudáveis fazendo com que a conscientização de uma preparação para um envelhecimento saudável faça parte de uma educação permanente. Entretanto sabemos que após o período escolar a prática da Educação Física diminui bastante, e de certa forma podemos dizer que grande parte dos idosos não praticou qualquer atividade física durante a sua vida adulta. Supomos que pode ser explicado por algum tipo de preconceito.


 Tendo como base a lei 8842 de 01/94, que trata da política nacional do idoso e tem como uma das ações governamentais "inserir nos currículos mínimos, nos diversos níveis do ensino formal, conteúdos voltados para o processo do envelhecimento, de forma a eliminar preconceitos"(BRASIL,1996), realizamos então um trabalho nas escolas em que atuamos abrangendo alunos correspondentes as séries de 5ªa 8ªdo Ensino Fundamental e do Ensino Médio.


 Grupos investigados.


 Nas escolas investigadas onde encontraram-se crianças de 10 a 16 anos correspondentes de 5ª a 8ª séries, não houve qualquer preparação sobre a reflexão do envelhecimento. Entramos na sala de aula e pedimos aos alunos para que pensassem sobre o velho, idoso e posteriormente começassem a imaginar sobre o seu futuro ou seja o investimento em sua saúde retratando como eles seriam quando idosos. Já com os alunos do Ensino Médio, fizemos uma prévia sobre o assunto da velhice através de indagações, questionamentos e reflexões. Sendo assim foram apresentadas três situações distintas:


• Ao o grupo de 6ª a 8ª série foi pedida a imagem de um idoso e como ele se vê idoso através desenhos e pequenas redações.


• Aos da 5ªsérie, foram pedidas suas imagens enquanto e quando idoso através de desenhos


• E para os do Ensino Médio, através de pequenas redações pediu-se sua imagem enquanto jovem e quando idoso.


Para a maioria dos alunos, a reflexão sobre o idoso ocasionou surpresa por ser um assunto nunca abordado. A aceitação e empenho foram positivos observando-se uma boa colaboração.


 De acordo com o resultado obtido, constatou-se que os alunos não possuem conhecimento nem preparação para o envelhecimento. Ficaram evidentes, através dos relatos e desenhos sobre os idosos, a dependência, a tristeza, a solidão, a falta de função na sociedade e até mesmo dentro de sua própria família por serem considerados um "peso", um "fardo" a ser "carregado". Houve também uma preocupação excessiva com a aparência física na juventude e a sua perda quase total na velhice.


 Conclusão


 Segundo o trabalho realizado, observamos que grande parte dos jovens vêem o idoso como uma pessoa despreparada para enfrentar a sua própria velhice. Uma parcela considerável dos velhos de hoje por sua vez, não tiveram em sua juventude a preocupação na preservação de sua saúde física e emocional. Concluímos também a necessidade da importância da inclusão deste tema nos currículos escolares na preparação dos jovens para o envelhecimento saudável e "posicionar-se contra qualquer discriminação"(BRASIL, 1997).

 A Educação Física passaria a ser uma prática permanente fazendo com que os alunos fossem capazes de valorizar e ‘adotar hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação a sua saúde e a saúde coletiva"(ibid).


 Para podermos concretizar o nosso trabalho, vimos a necessidade de uma ampliação dos conteúdos da Educação Física. Para tanto, faz-se necessária a preparação dos alunos para uma Educação Física mais abrangente, independente e acima de tudo criadora de hábitos e atitudes saudáveis a fim de proporcionar a autonomia vinda dos conhecimentos oriundos da nossa disciplina .Assim sendo, estaríamos colaborando para a formação de cidadãos autônomos, críticos e transformadores.


 A partir deste relato de experiência temos freqüentemente abordado por nossos alunos questões que envolvem preconceitos sobre o envelhecimento. Acreditamos que diante das respostas que hoje nos são dadas pelos nossos alunos, eles já perceberam diferentemente a velhice e seu próprio envelhecimento.


 Obs.
As autoras, Profas. Cristina de Matos Peixoto Fanzeres, Évelin Mendes Araújo e Renata Maria Burnier estão no curso de especialização lato senso em Educação Física Escolar da UFF.


 Referências bibliográficas


 Paz, Serafim F.(2000). Envelhecer com cidadania, quem sabe um dia? RJ: ANG
Magalhães, Dirceu .N.(1989). A invenção social da velhice. RJ: Papagaio.
Faria Junior, Alfredo G.(1997). Repercussões do fenômeno do Ageism na formação de . professores de Educação Física. Goiania: Anais do CBCE.
Alves Junior, Edmundo D.(1998). A escola na preparação do envelhecimento saudável..
Niterói :UFF (MIMEO).
Veras, Renato P.(1994). País jovem com cabelos brancos. RJ: Dumará.
Mota, Jorge & CARVALHO, Joana. (1999). Actas do seminário . A qualidade de vida do
Idoso. Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física. Universidade do Porto.
Brasil, lei 8842.(1996). Direitos da terceira idade. Brasília.