Resumo

O presente estudo objetivou discutir as noções de corpo e gênero na dança, tendo como foco os processos de construção das identidades masculinas de bailarinos de dança contemporânea. A investigação está situada no campo da perspectiva pós-estruturalista dos Estudos Culturais, e seus desdobramentos nos estudos pós-estruturalistas de gênero e de sexualidade. O estudo considerou a dança como uma prática corporal produzida na cultura, constituída por discursos e representações culturais, e como um campo de luta por significações. A partir daí, visualizei a existência de um conjunto de representações culturais hegemônicas de dança contemporânea ligadas a noções tais como: ruptura, transgressão, liberdade, essencialismo. Com esse foco, eu me interessei em analisar as tensões entre essas representações culturais de dança contemporânea e as representações culturais de gênero e de sexualidade. Através de uma análise cultural, examinei um conjunto de narrativas de bailarinos do mundo da dança contemporânea porto-alegrense, as quais foram obtidas a partir de entrevistas gravadas e, posteriormente, transcritas. As reflexões centraram-se em: como esses homens chegam a dançar em uma cultura onde a dança é hegemonicamente significada como uma prática não-masculina, e como se estruturam suas estratégias e negociações na produção, criação e manutenção da identidade masculina? A partir das análises realizadas, foi possível observar algumas recorrências. Os homens que dançam têm um início quase sempre bem tardio nessa prática, pois necessitam superar as representações culturais de dança que funcionam como “barreiras” sociais. Uma das formas como eles procuram superar tais barreiras é justamente exibindo alguns dos traços que têm sido característicos do modelo hegemônico de masculinidade dos últimos dois séculos: o modelo do self-made-man. Assim, o bailarino self-made é aquele que deve tornar-se um estudioso dedicado da arte da dança, por seus próprios meios e recursos, e que necessita “provar” sua masculinidade por meio do talento, ou ocupando posições de poder (professor, coreógrafo, etc.), demonstrando sucesso econômico, espírito de independência e eficiência.

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