Resumo
Este estudo tem seu foco nas representações sociais construídas e reconstruídas na interação quotidiana, especificamente naquelas relacionadas ao esporte master. Resultou do desejo de investigar um grupo de nadadores masters brasileiros, marcados pela alteridade quando transcendem a prática esportiva, desafiando por vezes os limites físicos que a idade lhes impõe. Partindo de uma abordagem microssocial, com atenção para o discurso e as práticas sociais do grupo, o principal objetivo é identificar os elementos das representações sociais dos masters sobre a prática competitiva da natação, localizando eventuais diferenças face à idade. Dez campeões masters, ex-atletas de competição na infância e que atualmente estão filiados à Associação Brasileira de Masters de Natação (ABMN) constituíram o grupo de informantes, considerados sujeitos genéricos, que representam o grupo em si e, por dominar sua linguagem "natural", são membros dessa sociedade discursiva. Para a coleta de dados utilizamos uma entrevista guiada e a observação participante, realizada em sete eventos do calendário oficial da natação master de 1998, em que acompanhamos o grupo nos campeonatos. Para a análise das anotações de campo e do discurso, utilizamos uma abordagem plurimetodológica, com base nas Representações Sociais, na Análise do Discurso de linha interdisciplinar, e na Etnometodologia, e em quatro categorias analíticas: a competição, a saúde, o envelhecimento e o lazer, que auxiliaram a interpretação dos dados. Após a análise discursiva e a organização e interpretação das anotações de campo, identificamos a polifonia, a polissemia, a plurirreferencialidade e a construção do sentido no dialogismo da interação como marcas no discurso dos masters, que influenciam suas representações sociais a respeito da prática competitiva da natação em direção ao seu caráter flexível e complexo. Assim, identificamos e consideramos a ambiguidade, a interpenetração, a contextualidade, o deslizamento de sentido, a opacidade e a indeterminação como sendo características naturais, não buscando dirigir o olhar para a coerência, pois concebemos a unidade do grupo enquanto síntese do que ele representa como diverso. As representações sociais dos masters em relação à sua prática competitiva da natação formam uma tecedura de saberes, opiniões e conhecimentos veiculados no quotidiano do grupo, que se estrutura em torno de alguns elementos que se interpenetram e sobrepõem, com três elementos nucleares: i) a competição, concebida em seus múltiplos sentidos (disputa, evento, busca da excelência, participação), com saliência para o sentido do evento; ii) a busca da manutenção da saúde, também veiculada no grupo, formulada como aptidão física e bem-estar; e iii) a confraternização. Entretanto, em virtude do aglomerado que tais elementos constituem, os três mais nucleares tendem a abarcar outros, menos abrangentes, como por exemplo a condenação do excesso na disputa, a valorização das premiações, o respeito aos limites individuais, a busca de uma velhice sadia, a natação como melhor esporte. Quanto às diferenças em função da idade, identificamos uma tendência à homogeneidade, que converge para a valorização da premiação e da competição, a maturidade diante da vitória e da derrota, as auto-representações de campeões e a natação como o melhor esporte. Os aspectos que marcam a diversidade do grupo foram a forma como encaram a decadência física, o amadorismo na natação master, a condenação da exacerbação da competitividade e o resgate da jovialidade. Estes elementos mostraram-se mais circulantes entre os masters mais idosos.