Resumo
Neste estudo propusemo-nos identificar os sentidos associados à construção do ídolo. Como referencial teórico utilizamos a Teoria das Representações Sociais, que se propõe a analisar os vínculos existentes entre representações e sistema de valores, noções e práticas. Postulamos que as representações sociais conferem aos indivíduos formas de se orientarem no meio social, além de proporem a possibilidade deles estabelecerem códigos para entenderem o seu mundo e a sua história individual e coletiva. Mapeamos as representações sociais de torcedores da Torcida Raça Rubro-Negra, do Clube de Regatas Flamengo, a respeito de seus ídolos, evidenciando os sentidos que emergem dessas representações quanto à trajetória e características de um ídolo e quanto à relação existente entre torcedor, ídolo, futebol, lazer, simulação e vertigem. Para tal, foram realizadas seis entrevistas semi-estruturadas com os membros da torcida, sendo dois deles dirigentes da mesma, dois sócios-fundadores e dois sócios. Frequentamos os locais onde os informantes se reúnem, como a sede da Torcida e o estádio de futebol nos dias de jogos, a fim de observar as ações práticas e discursivas espontâneas. A interpretação do discurso dos informantes apontou para o fato de que os torcedores representam seus ídolos a partir de um compósito de características como força, determinação, seriedade, técnica, identificação e amor ao clube e à torcida, sorte e comportamento moral. Dessas características, algumas se associam a outros sentidos subsequentes, como sorte, vinculada ao aspecto místico, e comportamento moral, que, reunidos às outras características, nos levam para a esfera do sagrado/profano. Este estudo mostrou também que a relação do torcedor com o futebol-ídolo é motivada principalmente pelo lazer proporcionado, que, entre outros, sentidos, pode representar uma fuga do cotidiano e de seus momentos árduos e entediantes. Quanto às ações práticas dos torcedores, identificamos que são eminentemente linguageiras: eles agem através do canto dos hinos e dos gritos de guerra, mostrando uma forte coesão emocional, em que a simulação torcedor – ídolo ganha espaço. Chegamos a um conjunto de elementos que podem ser categorizados como centrais, retomados em cada época, e a outro conjunto de elementos periféricos, que se alteram principalmente devido às pressões circunstanciais. Logo, os ídolos, embora existam desde as mais antigas civilizações, se reatualizam para responder aos anseios sociais de cada época.