Resumo
A máxima fase estável de lactato (MLSS) representa a intensidade que delimita o exercício sustentável daquele que proporciona distúrbios progressivos na homeostase celular. Em função da sua elevada sensibilidade aos efeitos fisiológicos do treinamento e, também, da estreita relação com a performance, treinamentos contínuos e intervalados em intensidades próximas a MLSS têm sido utilizados como referência para melhorar o desempenho aeróbio. Dessa forma, considerando a sua importância, parece fundamental conhecer a quantidade de esforço que o atleta suporta, bem como entender quais são os mecanismos associados ao tempo de exaustão (TE) nessa intensidade. Assim, o objetivo do presente estudo foi comparar o tempo de exaustão e as respostas cardiorrespiratórias, neuromusculares e bioquímicas em protocolo contínuo e intervalado na MLSS. O modelo intervalado foi realizado com 5 min de exercício intercalados com 1 min de pausa passiva. Para tanto, onze corredores treinados (32,7 ± 6,9 anos; 75,3 ± 5,3 kg; 176,8 ± 5,7 cm; 11,6 ± 4,0 de %G) participaram do estudo. Todos os atletas realizaram um teste incremental máximo, 2-5 testes submáximos (48h de intervalo) com duração de 30 min para determinar a máxima fase estável contínua (MLSScon) e intermitente (MLSSint), e dois testes, randomizados, em ambos protocolo até a exaustão, sendo que nesses últimos testes os atletas realizaram coletas de sangue venoso pré e pós para determinação de parâmetros bioquímicos e também realizaram exercício de força isométrica pré e pós para verificar a perda de força em função da corrida. Os dados foram expressos como média ± DP. Para comparação dos resultados entre os modos de exercício, foi realizado o teste t de student para dados pareados. O nível de significância adotado foi p<0,05. A ANOVA two-way com medidas repetidas foi utilizada para comparar as mudanças das variáveis fisiológicas ao longo do TE e entre os exercícios realizados de forma contínua e intermitente. A velocidade da MLSSint e a concentração de lactato nessa intensidade (vMLSS = 15,26 ± 0,97 km.h-1, [La] = 4,63 ± 1,78 mM) foram maiores que na MLSScon (vMLSS = 14,53 ± 0,93 km.h-1, [La] = 3,90 ± 1,21mM), enquanto o TE na MLSScon foi maior que na MLSSint (67 ± 11 min e 57 ± 15 min, p<0,05). Em relação as alterações neuromusculares, não foram encontradas diferenças entre os dois modelos de exercício, mas ocorreu perda de força tanto no modelo continuo (14,80 %) quanto no intermitente (13,14%). Para as respostas bioquímicas também não ocorreu diferença entre o TE contínuo e intermitente, mas para todos os parâmetros foi encontrada diferença pós TE tanto no modelo contínuo (CK = 65%; LDH = 39%; Cortisol = 133%, Testosterona = 25%) quanto no intermitente (CK= 46%; LDH= 25%; Cortisol = 126% , Testosterona = 31%). Por fim, conclui-se que, mesmo em velocidades relativas, o TE na MLSS é significativamente maior no modelo contínuo que no intervalado. O maior TE encontrado na MLSScon pode ser explicado pelo fato de que como na MLSSint a velocidade é maior, o exercício pode exigir uma maior demanda metabólica e consequentemente uma maior depleção de substrato, maior liberação de hormônios de estresse, maior acidose metabólica, além de gerar maior fadiga neuromuscular em função do maior numero de unidades motoras recrutadas. Isso parece ser confirmado pelo fato de mesmo com TE inferior no modelo intermitente (-20%), as respostas bioquímicas e neuromusculares terem sido alteradas na mesma magnitude.