Resumo

Introdução:  Evidências sugerem que protocolos de exercício físico com cargas autosselecionadas são associados com respostas afetivas e perceptuais positivas, as quais combinadas, parecem ter papel importante na participação futura em programas de exercício físico. De fato, participantes de um programa de exercício físico atuam como agentes ativos, e permitir a escolha da intensidade de seu esforço aumenta a sua percepção de autonomia na atividade, promovendo, por conseguinte, experiências subjetivas mais prazerosas e menos extenuantes. Cabe notar, todavia, que a relação entre autonomia percebida e respostas psicofisiológicas durante exercício físico autosselecionado foi apenas examinada na população adulta, negligenciando assim possíveis diferenças existentes na população infantil. Objetivo: Examinar a influência da autonomia percebida nas respostas psicofisiológicas durante exercício físico em crianças. Métodos: Participaram deste estudo 20 meninos (idade média 11,2 ± 0,9 anos; V̇O2pico 42,0 ± 5,6 mL.kg-¹.min-¹). Cada participante visitou o laboratório em quatro ocasiões. Na sessão 1, um screening médico, coleta de dados antropométricos, e familiarização foi realizado. Na sessão 2, um teste com cargas incrementais, tipo rampa, até a exaustão volitiva, foi realizado em ciclo ergômetro. Na sessão 3, um teste de exercício físico com duração de 15 min foi conduzido em ciclo ergômetro em uma intensidade autosselecionada. Por fim, na sessão 4, outro teste de exercício físico com duração de 15 min foi conduzido em ciclo ergômetro, todavia, em uma intensidade prescrita e equivalente à intensidade autosselecionada pelo participante na sessão 3. Em cada teste, respostas fisiológicas de consumo de oxigênio (V̇O2; Fitmate Cosmed®), além de respostas perceptuais (OMNI RPE scale, 0-10) e afetivas (Feeling Scale, -5 até +5), foram mensuradas a cada intervalo de 5 min. Ao final de cada teste, autonomia percebida foi reportada pelos participantes. Testes de ANOVA one way com medidas repetidas com post hoc de Bonferroni foram usados para examinar diferenças entre as condições autosselecionada vs prescrita nas respostas fisiológicas (%V̇O2pico), afetivas e perceptuais (P<0,05). Resultados: Os participantes autosselecionaram cargas entre 48 ± 13 W (min 5) até 51 ± 15 W (min 15), correspondendo a uma carga máxima equivalente a 32 ± 2% (min 5) e 34 ± 2% (min 15). As respostas fisiológicas (%V̇O2pico), portanto, foram similares entre as condições autosselecionada (min 5, 48,6 ± 1,0 até min 15, 48,5 ± 1,8) e prescrita (min 5, 49,5 ± 1,9 até min 15, 46,4 ± 1,3; F1,114=0,88, P>0,05). As respostas perceptuais, por sua vez, foram menores na condição prescrita (min 5, 2,20 ± 0,3 até min 15, 3,40 ± 0,4) em comparação com a condição autosselecionada (min 5, 3,25 ± 0,4 até min 15, 4,10 ± 0,3; F1,114=191,3, P<0,05). As respostas afetivas, opostamente, foram mais positivas na condição prescrita (min 5, 3,05 ± 0,3 até min 15, 2,30 ± 0,4) em relação a condição autosselecionada (min 5, 2,40 ± 0,3 até min 15, 2,45 ± 0,4; F1,114=7,37, P<0.05). A autonomia percebida, todavia, foi menor na condição prescrita (27,0 ± 3,7 vs 18,6 ± 6,6; P<0,05). Conclusão: Os resultados do presente estudo sugerem que respostas afetivas e perceptuais durante exercício físico são afetadas pela autonomia percebida em crianças. O exercício físico prescrito parece ser menos extenuante e mais prazeroso nesta população, independentemente da maior autonomia percebida durante exercício físico autosselecionado. As razões para tais achados são incertas e devem ser investigadas no futuro.

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