Revitalização dos Espaços de Lazer e Trabalho do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná
Por Simone Rechia (Autor), Andréia Drula (Autor), Zenilda Nunes Pires Conssani (Autor), Bruna Martins Herrans (Autor), Gabriela Cardoso Machado (Autor), Melissa Rodrigues Crepaldi (Autor).
Em XVIII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e V Conice - CONBRACE
Resumo
INTRODUÇÃO
O Departamento de Educação Física (DEF) está localizado no campus Jardim Botânico da Universidade Federal do Paraná e antes de ser instalado, o prédio abrigava um convento. Isso é confirmado a partir da observação dos espaços do DEF, que ainda possuem algumas características da sua função anterior, como a estátua de uma imagem religiosa em frente à entrada do departamento e os antigos dormitórios que hoje são os gabinetes dos professores. Dessa forma, os aspectos históricos e arquitetônicos podem influenciar as formas de uso de um espaço e também as relações de convívio entre as pessoas que o frequentam. Pode-se deduzir, assim, que a apropriação dos diversos espaços do DEF pelos alunos do curso de Educação Física é dificultada pelo fator histórico e, principalmente, arquitetônico do local, o que torna difícil a construção de um sentimento de pertencimento.
Dessa maneira, pode-se deduzir que a apropriação dos diversos espaços do DEF pelos alunos do curso de Educação Física é dificultada pelo fator histórico e, principalmente, arquitetônico do local. Para melhor compreender a dinâmica da relação indivíduo-espaço observada no local estudado deve-se entender o conceito de apropriação. Neste sentido, a influência que o espaço exerce ao indivíduo, como apontam Rechia e França (2006), é nivelada ao tipo de apropriação que o mesmo tem, sendo que dependendo do sentido e significado que o sujeito atribui ao espaço, este pode se transformar em “lugar”.
Assim, as experiências que o homem vivencia em um espaço são determinantes para que aconteça a transformação deste em lugar, junto com símbolos e referenciais que o identifica como tal, podendo ocorrer uma apropriação do lugar. Porém, não somente individual, mas uma apropriação social, agregando garantias de renovação criativa e olhar crítico (RECHIA, 2003). O que começa como espaço sem significado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor a partir de quanto o valorizamos, cuidamos e preservamos.
A partir desse fato, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Lazer, Espaço e Cidade (GEPLEC), idealizou o Projeto de Revitalização do DEF que foi realizado em forma de evento no primeiro sábado de março de 2013. Teve o intuito de potencializar os espaços para práticas de socialização e lazer, como também alguns espaços destinados às aulas regulares, visto que o DEF não oferece espaços com estrutura de qualidade para os acadêmicos, professores, funcionários e para a comunidade externa que frequenta o departamento. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi identificar como se deu o processo de Revitalização do DEF e como este projeto pode potencializar as formas de apropriação dos seus espaços.
A ORGANIZAÇÃO DOS ALUNOS DURANTE A REVITALIZAÇÃO E AS MUDANÇAS DOS ESPAÇOS
Cada equipe teve autonomia para desenvolver um planejamento a ser cumprido em cada local com a ajuda de professores tutores de cada espaço. Os alunos se organizaram de maneira agilizada, em mutirão, com ajuda de pais, ex-alunos e amigos. Um fenômeno interessante durante o evento foi a liderança mútua, pois não houve apenas um aluno que comandou as ideias, apesar de ter sido nomeado pela turma um coordenador para cada espaço.
As mudanças mais significativas foram: a limpeza do tablado de ginástica; a pintura das paredes da quadra de madeira; a implantação de bancos na área externa de convivência (o que estamos denominando de sala de aula ao ar livre); a pintura e o concerto de outros bancos que se encontram dentro do departamento; a limpeza e decoração com flores das áreas verdes externas; a pintura e decoração da sala de rítmicas; a revitalização do bicicletário externo; a construção de uma quadra de Futsac externa; a pintura das traves de futebol e das barreiras de atletismo; o conserto das telas que separam as quadras; personalização das mesas que foram doadas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e que se encontram dispostas pelos corredores; como também a decoração interna do departamento com vasos de flores e plantas doados por uma professora do departamento e a retirada de parte dos entulhos que estavam dispostos em todo o departamento.
Com os poucos dias após o evento de revitalização não se pode obter resultados específicos. No entanto, observa-se algumas “movimentações” que podem ser resultados desse processo. Existe uma movimentação na área externa onde foram implantados os bancos de madeira e nas mesas que se encontram nos corredores perto das salas de aulas. Os alunos estão se apropriando dessas áreas em horários diversos, o que torna o movimento de pessoas constante nesses espaços, especialmente no corredor do primeiro andar em que anteriormente, exceto em horário de entrada para as aulas, não havia grande fluxo de pessoas.
O OLHAR DOS SUJEITOS ENVOLVIDOS NO EVENTO DE REVITALIZAÇÃO DO DEF
No dia do evento foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco estudantes. Estas entrevistas buscaram encontrar qual é a expectativa dos estudantes após o evento de revitalização e se seria o papel do estudante realizar as ações que estavam ocorrendo nesse dia (pintura, limpeza, etc). Os sujeitos entrevistados têm idade de 18 a 23 anos, sendo um sujeito do sexo masculino e quatro do sexo feminino, abordados aleatoriamente durante o evento de revitalização.
A questão abordava as mudanças relacionadas ao cotidiano do departamento e notou-se que três entrevistados convergem no que diz respeito às questões motivacionais. Segundo os entrevistados, a partir do processo de revitalização a comunidade do DEF poderá perceber melhor os espaços do departamento. Dessa forma, a possibilidade de desfrutar do direito ao lazer está relacionada a qualidade desses ambientes que podem estimular o desenvolvimento pessoal e social (OLIVEIRA, 2010). Outro fato citado pelos entrevistados é a participação dos acadêmicos pós-revitalização, ficando evidenciado o aumento da percepção de apropriação dos sujeitos nestes espaços.
Neste sentido observou-se que o sujeito entrevistado acredita que é fundamental a conservação do espaço, mas que não é sua responsabilidade modificá-lo e melhorá-lo, concordando com o relato do Entrevistado E:
“Quem estar aqui, quer estar aqui, a nota não seria o único propósito, nosso papel como estudante é conservar e nosso direito é ter boas condições de estrutura, coisas que não vem ocorrendo”.
A pós-revitalização do DEF e a forma com que os estudantes olharão para o departamento dependerá do próprio sujeito, pois entende-se que quem participou deste momento conservará mais e terá mais participação, pertencimento e apropriação do espaço, quando comparado aos indivíduos que estiveram fora deste processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do histórico do DEF, percebe-se que o mesmo passou por algumas mudanças desde sua criação até os dias de hoje. No entanto, por ser um espaço criado para a função de convento, muitos dos seus espaços ainda possuem características que dificultam a apropriação por parte dos sujeitos frequentadores do departamento. Observou-se a necessidade de qualificar os espaços a partir da revitalização de sua funcionalidade e estética, assim como medidas para manutenção e reparos dos espaços e equipamentos presentes no DEF. A execução do projeto contou com a autonomia de alunos, ex-alunos e professores, visto que não foi imposta uma exigência para sua realização.
Percebe-se que as mudanças foram pequenas, mas significativas, pois observa-se o envolvimento dos alunos em relação ao cuidado dos espaços e equipamentos, bem como o aumento do fluxo de pessoas em diferentes horários de trabalho e de tempo livre.
Acredita-se que está cedo para avaliar o processo de revitalização quanto às relações sociais e apropriações da comunidade do DEF. Futuramente projetos como esse poderão impulsionar outras revitalizações tanto no DEF quanto em outros espaços públicos.
PALAVRAS- CHAVE: revitalização; apropriação; espaço.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, M. B. O direito ao lazer na formação do homem social. Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. 13, n. 76, maio 2010. Disponível em: Acesso: 23/03/2013.
RECHIA, S.; FRANÇA, R. O estado do Paraná e seus espaços e equipamentos de esporte e lazer: apropriação, desapropriação ou reapropriação? In: MEZZADRI, F. M.; CAVICHIOLLI, F. R.; SOUZA, D. L. (Org.). Esporte e Lazer: subsídios para o desenvolvimento e a gestão de políticas públicas. Jundiaí: Fontoura, 2006. p. 60-74.
RECHIA, S. Parques públicos de Curitiba: a relação cidade-natureza nas experiências de lazer. 189f. Tese (Doutorado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.
TUAN. Y. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.
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