Rítmica: Prática Pedagógica da Educação Física
Por Ilse Lorena Von Borstel Galvão de Queirós (Autor).
Em Caderno de Educação Física e Esporte v. 5, n 9, 2003. Da página 94 a 98
Resumo
Ao se fazer uma retrospectiva histórica sobre as manifestações rítmicas, observa-se que as canções infantis, os brinquedos cantados e as danças folclóricas e populares que antigamente faziam parte da vida cotidiana de crianças e jovens como expressões lúdicas espontâneas no tempo de obrigação escolar e lazer, atualmente, são quase inexpressivas na cultura infantil e juvenil substituídas por outras atividades mais modernas. Tal fato é decorrente das características da vida moderna, principalmente, pelo avanço tecnológico dos brinquedos, jogos e danças difundidas largamente pelos meios de comunicação de massa e pela crescente transformação dos espaços urbanos, além de outros aspectos sociais e culturais. Mesmo assim, ainda hoje, fazem parte da vida do ser humano embora com alterações, ocupam um lugar de importância principalmente na cultura infantil, prioritariamente, pelo seu caráter lúdico e recreativo que se mantém presente desde sua origem até os nossos dias. Em outra direção, alguns estudiosos e educadores, desde há muito tempo, em vários estudos, ressaltam a importância e os valores da estimulação do instinto rítmico e do desenvolvimento do senso rítmico no ser humano através das atividades rítmico-motoras, como recurso preventivo, terapêutico e educativo, considerando que as ações ritmadas constituem um dos caminhos para proporcionar o desenvolvimento integral. CAUDURU (1989), considera “que o menor gesto regido por um ritmo implica uma complexa organização e coordenação no plano motor, que se reflete no plano mental e afetivo. Ou seja, a atividade rítmica-motora bem orientada fornece ao sistema nervoso central impulsos de imagens motoras estruturadas que geram ordem interior e propiciam sensação de equilíbrio, e autodomínio” (p.25). Sob este panorama, os conteúdos da Rítmica são institucionalizados pelas instituições educacionais, fazendo parte da educação geral, como conhecimento a ser utilizado por várias disciplinas ou como conteúdo específico de uma determinada disciplina, em particular, da Educação Física. Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Médio colocam que a Educação Física, enquanto disciplina escolar, tem a “tarefa de garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente”, através de diferentes conteúdos entre os quais estão as Atividades Rítmicas e Expressivas, como expressão de produções culturais, como conhecimento historicamente acumulado e transmitido socialmente desta área de atuação, cada vez mais, este conhecimento é contemplado pelos organizadores com intuito de enriquecer a programação, através de mini-cursos ou integrados em propostas de dinâmica corporal, momento cultural e apresentação artística. Entretanto, a experiência profissional e a supervisão de estágios, durante muitos anos, na área da Educação Física e do Lazer, na cidade de Marechal Cândido Rondon, PR, têm demonstrado que os conteúdos da Rítmica enquanto conhecimento da Educação Física formal e não-formal, não se efetivam enquanto prática pedagógica dos profissionais, apenas apresentam-se como meras atividades lúdicas eventuais ou tema desenvolvido para apresentações em dias especiais com fins artísticos. Afinal, o que se compreende por Rítmica? Quais são os conteúdos que envolvem? Quais são suas relações com a Educação Física e o Lazer? Dança é sinônimo de Atividade Rítmica? A dificuldade inicial situa-se nestas questões básicas, sem entender estes aspectos, fica difícil atuar sobre algo que não se delimita muito bem em termos conceituais e operacionais, principalmente na perspectiva da formação e educação do movimento humano, visando uma educação integral do ser humano, objetivos primeiros da Educação Física, e satisfação e prazer enquanto conteúdo cultural do lazer.