Rosa Que Nada! Elas Vestem Azul Marinho: Uma Etnografia das Relações de Poder e Gênero Que Envolvem as Torcedoras do Clube do Remo
Por Aline Meriane do Carmo de Freitas (Autor), Fabiano de Souza Gontijo (Autor).
Resumo
Neste artigo proponho etnografar as sociabilidades das torcedoras do Clube do Remo objetivando verificar de que maneira a generificação e o futebol se entrelaçam, historicamente, formando um complexo a partir do qual as relações de poder se assentam, direcionando afetos, emoções e interações sociais quotidianamente. Acredito que a análise dos processos socioculturais intersubjetivos com o objetivo de compreender como se configuram as relações de vigilância, controle e regulação entre as torcedoras do setor feminino da Camisa 33 - a torcida Barra Brava do Remo – no que tange a produção de discursos sobre a fidelidade clubística (Damo, 2005) por meio da oposição binária entre Remismo e mistas. Os termos nativos são utilizados como dispositivos de poder para classificar (Lévi-Strauss, 1989) as torcedoras que têm o Remo como único time, bem como, as remistas que torcem para outros clubes. A arbitrariedade e inadequação dessas classificações são baseadas em uma hierarquização a qual divide as remistas entre mais ou menos torcedoras ou, ainda, “remistas de verdade” e “mulheres que entendem de futebol”, à medida que concordem com as regulações. A tentativa de controlar e vigiar o desejo das torcedoras, em vários episódios, punindo (FOUCAULT, 2002, 1993, 2010) quem discorda da regulação do grupo interno (SCHUTZ, 2012) nos possibilitou pensar esse sistema arbitrário de classificações definido pelo conselho da torcida, o qual é constituído majoritariamente por homens classe média, heterossexuais, jovens e universitários. Para fazê-lo, dialogo com um aporte teórico que possibilitará discutir gênero e marcadores sociais da diferença objetivando questionar desde o determinismo biológico sobre nascer mulher, bem como, a generificação enquanto categoria analítica: Beauvoir (2016), Butler (2003, 2011, 2016), hooks (2015) e Scott (1995), além de utilizar Geertz (2008) para etnografar densamente gênero, intersubjetividades, sociabilidades e relações de poder enquanto prática social do ser mulher-torcedora do Clube do Remo.