Resumo
O sistema nervoso autônomo é um dos principais responsáveis por modular a velocidade e a magnitude dos ajustes fisiológicos provocados pelo exercício físico. Pelo fato de a variabilidade da frequência cardíaca e a composição dos conteúdos salivares expressarem indiretamente a modulação desse sistema, elas têm sido amplamente utilizadas como ferramenta para determinação de diferentes intensidades de esforço. Contudo, a investigação simultânea acerca das respostassalivares e da variabilidade da frequência cardíaca durante diferentes tipos de exercícios físicos ainda é relativamente escassa – motivo pelo qual objetivou-se neste estudo a apuração das respostas de metabólitos presentes na saliva de jogadores de futebol e da variabilidade da frequência cardíaca após a execução de esforços intermitentes em intensidades supra máximas. Para essa análise, foram avaliados 12 jogadores de futebol, com 21,0 ± 3,3 anos de idade, utilizando-se o protocolo Repeated Sprint Ability com seis sprints de 40 m (20 + 20 m, ida e volta), com 20 segundos de recuperação passiva entre eles para indução de esforço. Antes e após a realização dos testes os sujeitos permaneceram sentados por 15 minutos – momentos em que foram coletadas amostras de saliva de cada avaliado. Os intervalos entre os batimentos cardíacos sucessivos foram registrados continuamente por dispositivos Polar Team2. Os metabólitos salivares foram avaliados por análises que envolveram a quantificação de proteínas totais, espectrometria de massas e reações em cadeia de polimerase; e os parâmetros relativos à variabilidade da frequência cardíaca foram obtidos a partir de análises nos domínios do tempo, da frequência e de interações não-lineares de sinais. Os intervalos RR médios e a variabilidade da frequência cardíaca calculada pelo índice RMSSD, assim como o componente responsável por alta frequência de oscilações dos batimentos cardíacos, foram significativamente menores no período pós-esforço. Além disso, foram identificadas 141 diferentes proteínas antes e após a participação dos atletas no teste RSA: 30 delas exclusivas do grupo pré esforço, 32 do grupo pós esforço, 61 coincidentes com diferença de expressão e 18 coincidentes e sem diferença de expressão entre os diferentes momentos analisados. Houve incrementos quantitativos importantes em diversos potenciais biomarcadores de estresse fisiológico nos momentos pós esforço, com especial destaque à lisozima e à enolase, além de proteínas como: estatina, anidrase carbônica, glutationa, interleucina, peroxirredoxina, prolinas, cistatinas, imunoglobulinas alfa, amilases, entre outras – associadas ao estresse oxidativo, início de respostas inflamatórias e predição de alterações da função cardíaca. Novos esforços são necessários em busca de maior uniformidade nas metodologias empregadas nas dosagens de proteínas totais, microRNAs e de variadas substâncias presentes na saliva – viabilizando maior segurança na utilização desse biofluido como meio diagnóstico não invasivo de estresse fisiológico.