Resumo
Introdução: A saúde humana é um fenômeno complexo, centrado na busca da conservação ou expansão da vitalidade vista como totalidade irredutível, e determinada através da interação do sujeito com o ambiente em que vive, incluindo o trabalho. O conceito de promoção da saúde destaca o papel de indivíduos e organizações na criação de oportunidades, escolhas e ambientes saudáveis mediante comprometimento social e político com o desenvolvimento sustentável e a redução das iniquidades. Nessa perspectiva, a universidade é um espaço social estratégico para a promoção da saúde, seja por meio da produção de conhecimentos, da formação profissional, ou do estímulo à saúde de grupos populacionais a ela relacionados. Não obstante, o cotidiano acadêmico com demandas crescentes por produtividade e o imediatismo digital tem provocado mudanças nas formas de organização do trabalho e na saúde dos docentes. Objetivo: Diante desse cenário, o presente estudo tem como objetivo compreender o fenômeno da saúde relacionando-o ao contexto de trabalho, ao apoio institucional promotor do autocuidado, e ao cuidar de si, com especial atenção às práticas corporais, a partir da percepção dos professores da Faculdade de Educação Física (FEF) da Universidade de Brasília (UnB). Metodologia: A pesquisa foi desenvolvida em três etapas complementares: os processos exploratórios de revisão da literatura e imersão no contexto da pesquisa; a trabalho de campo e a coleta de dados por meio de dois questionários e uma entrevista semi-estruturada para caracterização do contexto de trabalho e do apoio institucional ao autocuidado; e o processo reflexivo visando dar sentido ao conjunto de informações. A população da pesquisa foram os 38 docentes da FEF-UnB em efetivo exercício no ano de 2015. Resultados: Vinte e dois docentes responderam aos questionários e nove professores participaram das entrevistas. No geral os professores percebem um contexto moderado a critico de trabalho que necessita de melhoras, e não identificam o apoio da UnB ao autocuidado em saúde, com exceção à estrutura física para a prática de atividade física na FEF. As entrevistas permitiram aprofundar a compreensão sobre a saúde, em termos de sua situação (positiva ou negativa), de suas esferas (física, mental, emocional, espiritual, e/ou integral) e de sua relação com o contexto de trabalho, incluindo o apoio institucional ao autocuidado. O cuidar de si e a percepção sobre promoção da saúde, como um conceito que norteia os discursos e as práticas relatadas, também foram explorados. As interrelações observadas entre a saúde, o trabalho, o apoio institucional e o cuidar de si fogem ao modelo dual e linear e carecem de um olhar complexo que possibilite sua exploração e possa subsidiar estratégias e políticas inovadoras, dinâmicas, ativas e participativas que atendam melhor às necessidades contemporâneas em promoção da saúde no ambiente universitário. Conclusões: Os professores identificam diversos aspectos negativos à saúde no contexto de trabalho, principalmente relacionados às diversas atividades profissionais que, sobrepostas e alinhadas ao modelo produtivista, acabam por representar fonte de sofrimento e angustia. Mas também são capazes de mobilizar recursos disponíveis na busca de soluções criativas para tornar o trabalho possível e, também, obter resultados positivos no exercício de sua profissão e em sua saúde. O professor de educação física, como profissional da área de saúde e também da educação, não pode ser um mero transmissor de conhecimento, mas sim um agente de transformação social, o que pode ampliar a pressão e o sofrimento relacionados ao trabalho provocando um paradoxo que Jung denominou de o “curador adoecido”. A universidade precisa de profissionais, alunos e comunidade que ajudem a repensar seu papel de instituição promotora da saúde.