Resumo

Esta dissertação teve como objetivo compreender de que modo os/as professores/as especialistas de Educação Física constituem seu trabalho docente no I ciclo em duas Escolas da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Nessa investigação, de corte qualitativo com desenho teórico-metodológico etnográfico, constituíram-se como fontes de pesquisa documentos oficiais das escolas, anotações no diário de campo das recordações da observação participante e transcrição das entrevistas semiestruturadas realizadas com os/as docentes de Educação Física. As discussões estão ancoradas na perspectiva dos Estudos Culturais, sob uma abordagem pós-estruturalista, em especial naquelas que se inspiram nas ideias de Michel Foucault. A partir disso, no primeiro capítulo analítico, abordou-se a cultura docente, tratando das rotinas, das crenças, das práticas, e das relações entre os/as docentes que compõem o I ciclo. As discussões desse capítulo partiram de retóricas enunciadas nos contextos estudados, em especial, foi problematizado o termo “os pequenos”, que circula em ambas as escolas para referir-se às/aos estudantes do I ciclo. A incidência dessa expressão parece estar atrelada às idealizações sobre a infância, as quais, por sua vez, constituem também crenças e práticas em relação à docência com “os pequenos”, tais como: educar com amor, ser firme, elaborar diferentes atividades festivas. Nesse contexto, trabalhar com “os pequenos” implica “se virar nos 30’’” No segundo capítulo analítico, foram discutidas questões relacionadas às finalidades propostas no I ciclo. Problematizei a forte cobrança externa às escolas para desenvolvimento da alfabetização no I ciclo e o quanto isso se atravessa na legitimidade dos demais componentes curriculares, postos em menor relevância perante a necessidade de promover a alfabetização em um espaço-tempo determinado. Nesse ciclo alfabetizador, o entendimento da Educação Física que parece ser mais legitimado, nas escolas pesquisadas, pauta-se nas vertentes psicomotoras e desenvolvimentistas. Com esse percurso de discussões, essas questões podem dar pistas para compreensão de como se constitui a docência do/a professor/a especialista de Educação Física, que parece estar atravessada por um entrecruzamento de discursos que circulam na cultura escolar, sobretudo nas discursividades relacionadas à infância. Ao sinalizar certas verdades que foram sendo produzidas em relação à docência no I ciclo e seus efeitos de verdade, é possível pensar em linhas de fuga; novos modos de ver, pensar e se posicionar como docente no I ciclo com os/as “pequenos”.

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