Resumo

    

Integra

        Gostaríamos que o título fosse: O futebol depois da pandemia. Não como profecia do que será, mas do retorno do futebol somente após terminar a pandemia. No entanto, contrariando as opiniões melhor fundamentadas na ciência em todo o mundo, o futebol brasileiro decide voltar exatamente quando estamos diante do maior o índice de contaminação no país, e com mais de mil mortes diárias!

          Não era para durar tanto, caso tivéssemos seguido o que recomenda a ciência. Com apoio do Estado, isolados em suas casas, os brasileiros seriam menos contaminados e já teríamos superado o período crítico da pandemia, prontos para retornar organizadamente às atividades sociais e econômicas, dentre elas, o futebol. Mas o Estado fez o contrário. O Governo federal levou ao desespero, por carência financeira e por falta de apoio e confiança, pessoas, empresas, prefeituras e Estados. Sabia o presidente da república e seus apoiadores que, sob pressão, as pessoas teriam que sair de casa, sem contar aquelas que, por falta absoluta de renda, nem chegaram a guardar quarentena. O resultado está aí: três meses depois de iniciados os contágios, o número de infectados e mortos não para de crescer. Os números são alarmantes e indicam a necessidade de lockdowns. Mas, aí, o que faz o futebol? Decide voltar às atividades.

          E decide voltar às atividades, em nossa opinião, pelo mesmo motivo que permitiram, por exemplo, a volta do comércio e reabertura dos shoppings: pressão do mercado financeiro! Sim, questões financeiras – e não podemos nos esquecer que o futebol profissional movimenta uma quantia exorbitante de dinheiro -, mote da pressão de empresários, patrocinadores, federações e até de alguns clubes e atletas, o que faz com que atletas e todos os demais personagens desse cenário (comissão técnica e demais funcionários dos clubes, membros da imprensa, seguranças etc.) coloquem sua saúde em risco e em segundo plano.

Mas como diz o ditado, nada é tão ruim que não possa piorar, não é? Pois bem... dia 27/06, em reportagem do portal Globoesporte.com, tomamos conhecimento que a prefeitura do Rio de Janeiro liberou a volta da torcida aos estádios a partir do dia 10 de julho. As restrições explicitas no diário oficial, tais quais a capacidade máxima de 1/3 do público que o estádio consegue abrigar (no caso do Maracanã, 22 mil pessoas!) e o distanciamento mínimo de 4 metros entre as pessoas, dentre outras, nos fazem lembrar o questionamento irônico, apesar de pertinente, referente à volta das aulas presenciais nas escolas: como as escolas públicas querem voltar às aulas presenciais com a pretensão de controlar o contágio do Covid entre alunos e funcionários se não controlam nem o piolho? 

No caso do futebol, é a condição de atletas e protagonistas dessa prática social apaixonante que que os coloca como indispensáveis à sociedade neste momento de pandemia? Não, mas a condição de mercadoria, de produto, imposta e reproduzida implicitamente, por vezes de modo explícito, por grande parte daqueles que compõem o futebol profissional. Estamos falando do atleta “coisificado”. Mas isso é papo para outro texto!