Sementes do Cinema na Educação do Quintal

Por Marcos Ferreira Santos (Autor).

Parte de Cinema e Corpo . páginas 229

Resumo

Introdução
Uma das grandes dificuldades poéticas de se fazer cinema, com o viés do documentário é explorar as possibilidades do real imiscuídas na trama narrativa. Esta, por sua vez, ofício básico do imaginário tem na imaginação o seu operador privilegiado. A memória mesma nada é sem as deformações da imaginação, já nos advertia o mestre Gaston Bachelard em seus estudos sobre as bases elementares da imaginação. Aqui o historiador mais atento encontra os limites de seu fazer na construção devaneante da narrativa para fazer-se compreender, pois a duração dos eventos na linha do tempo é apenas pretexto para fantasiar. O “acontecimento” é conjunção impossível de desmembrar da existência e das relações que pessoa a pessoa se estabelecem na urdidura do chamado “real”. O documento dito “histórico” é tão somente apoio material para a imaginação mais frutífera. A própria fotografia nos atesta a construção do olhar na frágua do instante que se eterniza pelo registro. Trair a constelação de imagens que uma lembrança vai constituindo ao sabor das significações presentes é tentar dar uma ordem racionalizada à narrativa. E, então, podemos ter uma “explicação”, mas nunca a tentativa de comunicar uma experiência vivida cujas “dobras” (“plicas”, em latim) ocultam as vicissitudes mais efêmeras do próprio viver. Os eventos se duplicam, triplicam, quadruplicam e se complicam. Parecenos que a “implicação” é, precisamente, estar aberto e disponível à pletora de imagens que nos mobilizam no mergulho incauto às forças poéticas da criação. Após o acontecimento da criação é que se pode mobilizar as forças da reflexão num esforço de compreendê-la. De outro modo, desencantado, o aprendiz de poeta (ou, mais precisamente, aprendiz de ser humano), se desespera e perde os limites de sua humanização no furor gestionário e pedagógico de racionalizar tudo. Evidentemente que tal constatação pode provocar a ira dos mais aferrados defensores da “objetividade” científica, histórica, memorialística, etc. Mas, haveria como negar a poesia exigida pela tarefa de “contar uma história” ?

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