Resumo

Este estudo centra-se na discussão sobre trajetórias percorridas pela recreação e pelo lazer no Brasil, focalizando os significados incorporados, por ambos, na primeira metade do século xx. A metodologia utilizada baseou-se em estudo histórico que possibilitou a análise de três experiências institucionais no âmbito das políticas públicas, selecionadas a partir do destaque a elas conferido na literatura. O período abrangido tem, como marcos, a criação do Serviço de Recreação publica (1926) e a extinção do Serviço de Recreação Operaria (1964). Considerando o referencial teórico, foram utilizados estudos de Basil Bernstein, sobretudo as idéias: de classificação, que diz respeito às fronteiras que objetos mantêm entre si, fundamentadas na questão do poder; e de enquadramento, que vinculase com ritmo , compassamento e relação entre atores, expressando formas de controle social. Em Porto Alegre (1926-1955) os significados de recreação foram construídos em relação à educação física, sendo a proposta marcada por um forte enquadramento das atividades desenvolvidas. Tendo como matriz a educação física, a recreação foi entendida como sinônimo das atividades proporcionadas nos Jardins de recreios, caracterizando-se por uma metodologia de trabalho diferenciada. Em São Paulo (1935-1947) predominou a idéia de recreação como conjunto de atividades-meio, cuja matriz fundamentou-se no pensamento escolanovista. Ao possibilitar recreio, assistência e educação para pobres e adolescentes operários, a classificação adotada foi rígida, mas o enquadramento foi fraco. A preocupação em produzir conhecimento sobre a recreação foi expressiva e privilegiando o jogo infantil organizado, foi adotada uma postura prescritiva. Em ambas experiências o lazer assumiu o significado de tempo de não trabalho. NA década de 1930 identificou-se uma preocupação em aprofundar conhecimentos sobre o lazer, fator determinante da proposta desenvolvida no Distrito Federal (1943-1964). Permanece o significado de Lazer associado ao tempo, mas, a inevitável ampliação das horas de folga do trabalho foi o ponto para a realização de pesquisa sobre este tema. Seguindo uma forte classificação, paralela a um fraco enquadramento, o significado de recreação correspondeu à utilização adequada das horas de lazer, e o trabalho produtivo foi a matriz de pensamento que possibilitou a construção dos seus significados. Vários estudos sobre o lazer foram elaborados na primeira metade do século xx e ultrapassaram o caráter técnico e prescritivo geralmente associado à recreação, destacando-se obras de Arnaldo Sussekind. Mesmo que esses estudos tenham constituído iniciativas isoladas, podem ser considerados como evidencias da emergência do lazer, no Brasil, enquanto campo de estudos. Nas experiências analisadas o espaço, relacionado com o poder, foi uma categoria determinante para a recreação, tendo como estratégia de organiação do trabalho o desenvolvimento de atividades. A categoria fundamental que determinou o lazer foi o tempo, como mecanismo de controle social. Mesmo que as três experiências institucionais tenham sido propostas como estratégia de controle social, ampliaram oportunidades e geram benefícios para os segmentos populares. A conclusão a que se chega é que recreação e lazer tiveram significados distintos em suas trajetórias. A principio independentes, essas trajetórias passaram, posteriormente, a estreitar suas inter faces, mas recreação e lazer mantiveram suas especificidades no período focalizado. 

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